Na Casa Barão de Nova Sintra, 78% das crianças têm apoio especializado na área da saúde mental.
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Com mais de 150 anos de história, pelo Colégio Barão de Nova Sintra, deixado em testamento pelo industrial José Joaquim Leite Guimarães à Santa Casa da Misericórdia do Porto (SCMP), passaram crianças como o pintor portuense António Carneiro. Da missão educativa inicial, com a lei de proteção e promoção de jovens reconfigurou-se numa Casa de Acolhimento Residencial (CAR), acolhendo, hoje, 23 rapazes, entre os 9 e os 21 anos. Dos quais, 78% têm acompanhamento em especialidade de saúde mental.
"Quando têm estas medidas, estas crianças vêm de ambientes naturais de risco, sujeitas a negligência, a maus-tratos continuados. Com padrões persistentes de desafio, muito hostis, dificuldade em cumprir regras e humor irritável", explica a diretora técnica Catarina Simões. Das crianças que o Barão de Nova Sintra acolhe, "12 têm diagnósticos: cinco, perturbação de hiperatividade e défice de atenção; quatro, perturbação de oposição e desafio; quatro, sintomatologia ansiosa e depressiva; e quatro, défice cognitivo".
Maioritariamente adolescentes, chegando em "idades cada vez mais difíceis, com padrões de comportamento muito enraizados", esclarece a também psicóloga. O apoio especializado é feito no exterior, seja no SNS ou no privado, cabendo ao psicólogo da instituição as terapias de grupo.
A família, vinca, por sua vez, João Belchior, diretor do departamento de ação social da SCMP, "é um agente fundamental na nossa intervenção", tanto mais que "o objetivo é o regresso à família sempre possível". Razão pela qual tem de ser altamente envolvida neste processo de reabilitação". A maioria das crianças que se encontram nesta CAR "têm ligação e contacto semanal, e ás vezes diário por telefone, com as famílias", explica Catarina Simões.
Reinventar acolhimento
Ambos concordam que o acolhimento residencial tem de ser repensado. "As CAR que existem no país vão ter de se reencontrar ou mesmo encerrar a resposta. Começa a haver um superavit de camas nesta área", considera a diretora do Barão de Nova Sintra.
Porque, prossegue João Belchior, o caminho passa pela desinstitucionalização, pelo investimento nas famílias de acolhimento e em equipas técnicas especializadas. Ficando "as casas de acolhimento com as situações mais delicadas e exigentes do ponto de vista de intervenção".
O desafio, diz, "é implementá-la", num país em que o "problema não é a legislação, mas a aplicação e os fundos necessários para aplicar". No caso do Barão de Nova Sintra - também em processo de reflexão -, "já com subsídios da Segurança Social, o défice anual é de 500 mil euros", revela João Belchior.