No seguimento de uma carta onde a ministra do Ensino Superior, Elvira Fortunato, criticou as praxes académicas afirmando que é necessário "combatê-las", as federações académicas de Lisboa e do Porto uniram vozes e criticaram aquilo que dizem ser as "prioridades trocadas" do Governo.
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Depois de Elvira Fortunato, ministra da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, enviar uma carta aberta às associações e federações académicas e aos dirigentes das instituições de ensino superior, na qual reitera a necessidade de "combater as praxes académicas", a resposta das federações de Lisboa e do Porto não se fez esperar.
Num comunicado divulgado nesta tarde de quarta-feira, as federações afirmam que "toda e qualquer prática que desrespeite a integridade física e mental dos estudantes, ou de qualquer outro membro da comunidade académica deve ser condenada". Recordaram também a proposta de criação de um mecanismo de denúncia de casos de assédio e discriminação, feita num dos últimos encontros nacionais de direções associativas, e que até agora não foi concretizada.
Ao JN, João Machado, presidente da Federação Académica de Lisboa, criticou as "prioridades trocadas" da ministra no que toca aos problemas do ensino superior.
Na carta, a ministra recusa as "práticas de integração e humilhação", em menção às praxes académicas, que , no seu entender, "têm por base, injustamente, a defesa da preservação de tradições académicas". Em alternativa, propõe a criação de um ambiente universitário "inclusivo, inspirador e seguro", em linha com princípios "de liberdade, de tolerância e de solidariedade". Mas as federações lamentam que os alertas do Governo se dirijam apenas às praxes académicas.
Cresce a falta de alojamento estudantil
Para João Machado, "é, no mínimo, surpreendente que no início do ano letivo, o foco do Governo não seja a resolução dos problemas estruturais do Ensino Superior" - de entre os quais os representantes académicos enunciam a falta de alojamento estudantil, mas também a problemática da saúde mental dos estudantes.
Ao JN, João Machado reitera que têm "recebido vários relatos de dificuldades em encontrar alojamento, inclusive de estudantes estrangeiros" e que gostariam de "saber o porquê de a ministra se ter concentrado tanto na questão das praxes quando existem problemáticas como o ajustamento do valor das propinas e a saúde mental dos alunos".
Referindo-se ao aumento da inflação e às consequências desta para os estudantes, as duas federações entendem que a falta de resposta por parte do Governo leva a uma "tendência para a poupança de recursos (no ensino) e a uma consequente deterioração da qualidade do ensino e dos serviços prestados aos estudantes".
Apesar da crítica deixada à atividade das praxes, Elvira Fortunato aponta a diminuição no número de denúncias de praxes abusivas e violentas e reconhece o papel das associações académicas e das próprias instituições de ensino superior por criarem "mecanismos preventivos" e "alternativas de integração mais positiva".