O líder parlamentar do PS e o primeiro-ministro travaram, esta quarta-feira, um debate tenso, com Ferro Rodrigues a apontar ao Governo "sete pecados capitais" e Passos Coelho a contrapor com as "dez pragas socialistas".
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Esta troca de acusações registou-se no primeiro frente-a-frente do debate sobre o "Estado da Nação", na Assembleia da República, com os discursos de Ferro Rodrigues e de Pedro Passos Coelho, ao contrário do que tem sido habitual, a serem com frequência interrompidos por ruidosos protestos das bancadas adversárias.
Ferro Rodrigues fez um breve balanço da ação do executivo, considerando que o Governo está numa lógica de "propaganda irrealista" para encobrir os "sete pecados capitais" resultantes da sua política de "empobrecimento do Estado da Nação".
Pedro Passos Coelho respondeu logo a seguir com outra "imagem bíblica" sobre as consequências da ação dos governos PS entre 2005 e 2011: "As dez pragas da herança socialista", a começar pelas "obras faraónicas e pelas parcerias público-privadas (PPP)".
Ferro Rodrigues abriu a sua breve intervenção a culpar o primeiro-ministro de fazer um discurso "déjà vu", com "propaganda e irrealismo", pretendendo fazer passar a ideia de que, com o PS eventualmente no poder, Portugal conheceria um regresso ao passado.
O líder da bancada do PS contrapôs então que foi o atual Governo quem levou o país a um regresso ao passado em indicadores como a pobreza, o desemprego ou a emigração.
"Essa imagem laranja e azul [as cores do PSD e CDS] do país, que os senhores das duas bancadas ensaiaram nos últimos dois dias, é desmentida logo nas últimas 24 horas", disse, apontando então como exemplos negativos, a partir de notícias de jornais e da Agência Lusa, o estado do défice da balança comercial, o crédito mal parado, as dívidas à Segurança Social, a "regressão" no nível de vida da generalidade dos portugueses ou a taxa de população emigrada.
Mas Ferro Rodrigues ainda foi mais longe, acusando o primeiro-ministro de ter vencido as últimas eleições legislativas baseado "na mistificação e na mentira política".
A terminar, o líder da bancada socialista ainda se referiu à situação na Grécia para criticar o líder do executivo de integrar uma linha favorável à colocação de "obstáculos" para contrariar um acordo na zona euro.
Neste ponto, o primeiro-ministro classificou como "risível" a referência de Ferro Rodrigues à sua conduta no caso grego e desafiou o líder da bancada do PS a comentar antes as afirmações públicas que têm sido proferidas por primeiros-ministros e ministros das finanças socialistas europeus a propósito das negociações entre as instituições europeias e o executivo de Atenas.
"Depois de fazer isso, a seguir, podemos ter uma conversa mais elaborada", disse, dirigindo-se a Ferro e recebendo uma prolongada salva de palmas das bancadas do PSD e do CDS.
Mas Pedro Passos Coelho, ainda a propósito das "dez pragas socialistas" herdadas por Portugal, além das obras faraónicas, apontou também os sucessivos PEC (programas de estabilidade] apresentados entre 2010" e 2011 pelo executivo de José Sócrates, as "enormes desigualdades sociais" geradas pelo pedido de resgate de Portugal, a existência de um "défice a rondar os dez por cento" e o "completo desgoverno que reinava no setor empresarial do Estado".
O primeiro-ministro criticou ainda os governos socialistas "pela nacionalização do Banco Português de Negócios (BPN)", pela existência de um elevado défice tarifário na eletricidade, por "um desemprego estrutural a rondar os dez por cento" e, finalmente, por ter levado Portugal "a um endividamento galopante, com o aumento a atingir os 20 pontos percentuais".
"Já agora, o PS fala em vergonha das privatizações. Mas digo-lhe que o encaixe financeiro feito nesta legislatura atingiu o dobro daquele que estava previsto pelo último Governo socialista", acrescentou o líder do executivo.