Incêndio de Leiria já foi extinto mas populares recordam pânico vivido. Só na primeira semana de agosto a área rural ardida mais que duplicou.
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O incêndio que deflagrou, em Odemira, no Alentejo Litoral, no sábado ao início da tarde, atingiu esta terça-feira os 10 mil hectares de área ardida e chegou ao Algarve. E mantém-se com duas frentes ativas. A mais a norte, em Odemira, já não causa preocupações aos bombeiros, mas a que se localiza a sul, no concelho de Alzejur e virada para a serra de Monchique, está a ser difícil de combater, devido à mudança da direção do vento e às condições de acesso.
A esperança na descida da temperatura a partir de hoje faz acreditar em melhorias nos combates às chamas. Depois dos incêndios dos últimos dias, a área rural ardida desde o início de 2023 atingiu os 25 279 mil hectares, de acordo com os dados provisórios do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF). Ora o mesmo Instituto, no seu último relatório, de 31 de julho, informava que tinham ardido 10 545 hectares, o que significa que na primeira semana de agosto a área ardida mais que duplicou.
No Sul, na terça-feira, 1459 pessoas tiveram que ser deslocadas para locais seguros, na maioria para as zonas de apoio à população, situadas em Odemira, Aljezur, Monchique e São Teotónio.
Alojamento Local ardeu
A par de alguns carros e anexos, o fogo destruiu um alojamento local localizado em Vale Juncal, Odemira. A proprietária adiantou que chegou a pedir aos operacionais que estavam com três carros de bombeiros na estrada para ajudarem, mas que lhe responderam não terem ordens para isso.
Em Leiria, poucas horas após as chamas estarem controladas, o JN encontrou uma população ainda muito assustada. Maria Luísa Oliveira, de 70 anos, ainda sente no corpo o esforço que fez para tentar salvar o seu rebanho, que pastava numa terra consumida pelo incêndio que, na segunda-feira, deflagrou na freguesia do Arrabal e que se estendeu às povoações vizinhas. O esforço da moradora e do marido acabou por ser em vão: 12 ovelhas morreram e as três que conseguiram retirar do local "não devem sobreviver".
A mulher conta que, ao início da tarde, começou a ver fumo, mas pareceu-lhe ainda longe. Sem conseguir contactar o filho, proprietário dos animais, foi com o marido e o irmão tentar recolher as ovelhas. "Abrimos a cerca, mas elas assustaram-se e fugiram em sentido contrário. Vi os animais a caminhar para a fogueira", recorda.
Já na povoação de Caldelas, freguesia da Caranguejeira, o incêndio bordejou casas e empresas, sem, no entanto, haver danos a registar além da destruição de floresta.
Na mesma freguesia, registou-se um outro incêndio, que começou com um minuto de diferença relativamente ao fogo do Arrabal. Os momentos mais aflitivos viveram-se na aldeia de Vale Sobreiro, com as chamas a ameaçarem várias casas.
“Foi horrível”
Numa delas, na Rua do Cabeço, o fogo só parou no muro e nas escadas em pedra que dão acesso à habitação. Mais em cima, arderam dois carros, que se encontravam junto a um barraco.
"Foi horrível ver o fogo a aproximar-se das casas. Cheguei a pensar que algumas não escapassem", conta Sandra Silva, que revela a angústia de um vizinho que, no ano passado, perdeu a sua oficina de automóveis, num incêndio em Ourém e que, desta vez, viu as chamas chegarem a "menos de 200 metros" de casa.