Ao todo, 14.600 jovens que estavam desempregados ou em situação de subemprego receberam formação nas áreas tecnológicas, desde março de 2020, através do Programa UPskill - Digital Skills and Jobs, suportado pelo Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP). O Governo espera aumentar este programa, trazendo respostas para a transição digital, bem como a energética e a área da prestação de cuidados aos mais velhos.
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David, 34 anos, trabalhava num grupo hoteleiro de grande dimensão até ao começo da pandemia, quando viu os colegas a passarem por algumas dificuldades. Antes que a precariedade lhe batesse à porta decidiu candidatar-se ao Programa UPskill - Digital Skills and Jobs. Está há dois anos numa empresa de programação.
Também André, de 39 anos, conseguiu emprego há dois anos. Foi dos primeiros formandos do programa e hoje consegue "ver um futuro a construir aplicações".
Já Patrícia, de 28 anos, espera conseguir sair da casa dos pais, satisfeita com a oportunidade de emprego que abraçou há cerca de seis meses, assim que terminou o curso a que se candidatou. "Na altura tinha três trabalhos ao mesmo tempo e mesmo assim não conseguia ter rendimentos para me inscrever num curso pago".
Estes exemplos foram partilhados na primeira pessoa, esta sexta-feira, num evento sobre o Programa UPskill - Digital Skills and Jobs, no Hub Criativo do Beato, em Lisboa.
Estes jovens frequentaram cursos de seis meses nos politécnicos e universidades, seguidos de três meses de trabalho remunerado, equivalente ao salário mínimo nacional, nas cerca de 130 empresas que participam até agora no projeto. O objetivo é que, "no final da formação, estas empresas contratem 80% dos formandos e que, numa fase inicial, possam receber 1200 euros", sublinhou a ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Ana Mendes Godinho.
Este é o terceiro ano em que o Programa UPskill está em curso, tendo, neste 1.º ciclo, um total de 432 vagas. As candidaturas estão abertas até dia 20 de fevereiro e destinam-se àqueles que preencham requisitos como ter, pelo menos, o 12º ano de escolaridade completo ou uma licenciatura pós-Bolonha e dominar a língua inglesa. O projeto existe em colaboração entre a Associação Portuguesa para o Desenvolvimento das Comunicações (APDC), o IEFP e o ensino superior, nomeadamente o Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos (CCISP), o Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE) e a Universidade do Algarve.
"Temos tido historicamente sempre essa relação: o número de candidatos supera sempre mais o número de vagas. Mas o objetivo é crescer nesses dois patamares", sublinhou, ao JN, o secretário de Estado do Trabalho, Miguel Fontes.
Descentralizar oferta
Por agora, a oferta ainda se concentra nos centros urbanos, como Lisboa e Porto, onde se localizam a maior parte das empresas TIC existentes no mercado de trabalho, apontou o secretário de Estado. "Todo o nosso esforço neste momento é de orientar a política pública de formação, não necessariamente apenas para a área tecnológica, mas para as necessidades reais dos desafios que o país está neste momento a enfrentar, em que a transição digital vem à cabeça, mas também a transição para a economia verde", afirmou.
A ideia é que o programa possa ter mais vagas - um número dependente da procura de empresas -, bem como um maior leque de ações de formação e que estas possam chegar a mais zonas do país. "A única coisa que pedimos às empresas é aquilo de que elas próprias precisam. Este é um programa de compromisso entre quem quer aprender e quem quer empregar", apontou o governante.
Para aumentar esta resposta, o Governo espera construir um centro de competências em Sines para ajudar a formar profissionais em "competências e empregos verdes com o objetivo de formar 10 mil profissionais nesta área", avançou Miguel Fontes, acrescentando que estas ações irão contribuir para antecipar "eventuais riscos de desemprego".
Entre outros setores que possam vir a mostrar carências no futuro, o secretário de Estado apontou a área da prestação de cuidados para dar resposta a uma população cada vez mais envelhecida, adiantando que "um dos outros novos centros de formação tem em vista a oferta de competências na economia social" e que será construído na Guarda.
Existe esta ideia de que as tecnologias põem em risco de alguma forma os trabalhos que já existem, mas este programa mostra o inverso: elas criam novas oportunidades
"Este é o ano europeu das qualificações. Há uma oportunidade grande para que a União Europeia possa ver o exemplo de Portugal que é pioneiro deste repto no investimento das qualificações massivamente a nível europeu, seja em 'reskilling' ou "upskilling' neste contexto das duplas transições, ambiental e digital", explicou a ministra Ana Mendes Godinho. Um fator "decisivo" para que a Europa tenha um crescimento mais inclusivo, resumiu.
Um desafio que fica agora nas mãos da Comissão Europeia, representada no evento pelo Comissário Europeu para o Emprego e os Direitos Sociais, Nicolas Schmit que ouviu os jovens formandos. "Existe esta ideia de que as tecnologias põem em risco de alguma forma os trabalhos que já existem, mas este programa mostra o inverso: elas criam novas oportunidades", defendeu.
Do lado dos parceiros, o coordenador do programa na APDC, Manuel Garcia, destacou ainda que este não é "um desafio simples para as empresas que têm de perspetivar as necessidades que possam vir a ter nos próximos dez ou mais meses" e que "não é garantido que estes formandos tenham um emprego à saída", reconhecendo o seu esforço.
Depois de identificar as necessidades das empresas que se mostrem interessadas em fazer parte do programa, prevê-se um 2.º ciclo de candidaturas entre abril e maio deste ano."Quantos candidatos mais houver também nos estimula a abrir novos ciclos", apelou a ministra Ana Mendes Godinho.