Os carros inscritos nas plataformas TVDE subiram 30% este verão, mas o aumento da procura é maior e chega aos 300% no Algarve. A migração de muitos dos 40 598 motoristas para Sul tem levado a um aumento das tarifas nas cidades de Lisboa e do Porto, onde chega a não haver carros e as tarifas dinâmicas - preços que sobem quando há mais procura e menos carros - têm permitido aos profissionais faturar mais. Cada vez mais motoristas são estrangeiros e o setor continua apreensivo porque, apesar do aumento da faturação, a rentabilidade ainda não chega à registada pré-pandemia.
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Uber, Bolt e Free Now - as três principais plataformas TVDE a operar em Portugal - calculam que, até ao momento, haja mais 30% de veículos a operar. Mas o aumento da procura é muito superior, originando falta de serviço em alguns momentos. "Em Lisboa, a procura aumentou mais de 45%, no Porto mais de 80% e no Algarve cerca de 300%", revelou fonte da Free Now ao JN.
"O aumento médio da procura a nível nacional tem-se fixado à volta dos 30%", estima Nuno Inácio, da Bolt Portugal. Uma vez que os motoristas inscritos na plataforma não têm de pedir para mudar a zona de operação, a Bolt não tem registo de quantos migraram nesta altura para o Algarve.
A Uber não discrimina o aumento da procura nas regiões portuguesas, tendo apenas disponíveis os resultados do segundo trimestre, que revelam que "o valor das viagens aumentou 57% a nível mundial". Quanto ao número de motoristas que migram no verão, a empresa cita dados de há dois anos: "No verão de 2019, 72% dos motoristas das áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto e dos distritos de Coimbra e Braga que mudaram temporariamente para outras regiões fizeram-no ao mudar-se para o Algarve".
Pedro Jordão, vice-presidente da Associação Nacional Movimento TVDE, admite que haja "alguma movimentação de motoristas para o Algarve, especialmente quando há eventos". Mas explica a falta de veículos disponíveis com o abandono da atividade de muitos que, durante os dois anos de pandemia, não faturavam o suficiente.
Aluguer de contas ilegal
"Saímos dos confinamentos, mas entrámos numa guerra que levou ao aumento do custo de vida e dos combustíveis. As plataformas aumentaram as tarifas, mas ainda não chega aos valores anteriores à lei de 2018", explicou Pedro Jordão. "Faltam motoristas porque, hoje, com o que as plataformas pagam pela deslocação para recolha (zero), não há rentabilidade", acrescentou.
A falta de automóveis para quem quer iniciar atividade é outra dificuldade que Helder Inocêncio, presidente da Associação TVDE, crê que terá de ser ultrapassada com "a permissão de mais antiguidade para os veículos, em vez de sete, de dez anos como nos táxis".
Motoristas e empresários continuam a pedir "mais fiscalização", particularmente com a entrada de novos condutores imigrantes. "Não se trata de discriminação, mas como é possível que haja tantos motoristas que nem falam português a conduzir TVDE? A formação é dada em português, o que leva a pensar que pode haver aluguer de contas ilegal", explicou Pedro Jordão.
De acordo com o Instituto da Mobilidade e dos Transportes Terrestres, até junho deste ano estavam licenciados 40 598 motoristas, dos quais 29 786 portugueses (73,4%). O Brasil é o segundo país de origem dos motoristas, com 1109 licenciados já este ano (em 2019, foram 2213). Os indianos já quase triplicaram o valor de todo 2019 (351), com mais 949 licenciados no primeiro semestre de 2022, sendo o total de motoristas daquela nacionalidade 2166. v
Reivindicações
Taxa pela recolha
Quando os clientes estão a mais de 2 km e a recolha não é paga, especialmente em horas de ponta e nas cidades, os motoristas "perdem todo o rendimento". A ANM-TVDE quer que os motoristas comecem a ser pagos a partir do momento em que aceitam a corrida.
Bloqueios e serviço
Os motoristas querem poder defender-se quando recebem más classificações ou são acusados de má conduta. Além disso, queixam-se que as plataformas não têm apoio rápido, nalguns casos funcionando com contact centers noutros países, o que dificulta a validação de documentos e/ou o início de atividade.
Apoios combustível
Apesar de o Governo ter anunciado, ao fim de alguns meses de reclamações, um apoio de 138 euros para os TVDE devido ao aumento dos combustíveis, os profissionais continuam a aguardar pagamento das verbas prometidas há mais de três meses.
Aeroporto de Lisboa
Os motoristas TVDE que operam na cidade de Lisboa queixam-se de não poder "ir buscar clientes mais que duas vezes ao dia", caso contrário "têm de assumir dois euros pela despesa de passar a cancela", denunciou Pedro Jordão. Algumas plataformas também não pagam as portagens dos percursos indicados pela própria app.