PS iniciou corrida com o poder absoluto na mira e acabou com aproximação a todos, menos ao Chega. Comportamento das várias forças mudou quando PSD começou a disputar o topo das sondagens.
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A campanha termina com juras de diálogo e cenários de governação para todos os gostos e feitios, após várias semanas marcadas por um passa-culpas entre esquerdas, por apelos do PS à maioria absoluta e por um debate sobre o regresso do bloco central.
Embora abafado por um líder socialista mais dialogante e atento a todos os cenários possíveis, quando Rui Rio partilha o topo das sondagens, um acordo entre PS e PSD mantém-se como gato escondido com rabo de fora. E não é o Zé Albino, o felino de Rio que esteve na ribalta num dos momentos mais descontraídos da campanha, mas também um dos mais tensos para Costa.
Assustado com as sondagens, que o tiraram de uma estratégia confortável de mostrar trabalho, Costa tentou colar Rio a Passos Coelho e atacou-o em temas com as pensões e a saúde, acusando o PSD de querer pôr a classe média a pagar o SNS. Na reta final, Rui Rio defendeu que o PS "merece perder" por fazer "campanha com base na mentira".
Assumiu combate direto
Após uma maratona de debates, as sondagens provocaram uma reviravolta nas estratégias. Os partidos foram todos a reboque desta bipolarização entre PS e PSD, que estão taco a taco.
Filipe Teles, professor de Ciência Política na Universidade de Aveiro, fala destes "dois momentos distintos". Os debates "surpreenderam pelo esclarecimento que permitiram". Depois, veio "o combate político mais tradicional", em que o politólogo refere uma "campanha mais acesa, com acusações e mesmo ameaças, à medida que se foi verificando a aproximação entre PS e PSD" nas sondagens. E houve "uma revisão da estratégia" de Costa, que "passou a estar mais presente no terreno" e a vincar as suas diferenças face à Direita.
Viriato Soromenho-Marques, professor de Filosofia Política na Universidade de Lisboa, também refere dois momentos, "um de pré-campanha muito mais ideológico", com debates na TV e na rádio. Crê que foram "civilizados no essencial", mas limitados nos temas.
Chegados à campanha, "foi impressionante o papel das sondagens", com "clara mudança" em todas as candidaturas em função dos resultados. Isto embora garantissem, como disse o líder do CDS, estarem vacinados contra as sondagens.
Ao mesmo tempo que assumiu um combate mais direto com Rio, Costa prometeu, embora sem compromissos, dialogar com todos, exceto o Chega. Ventura, que quer ser a terceira força, é a linha vermelha dos vários partidos. Mas o PS continua a avisar que Rio pode aliar-se a Ventura. CDS e IL recusam integrar um Governo com o Chega. Ou um bloco central, que o CDS diz ser o "elefante na sala".
Multidão em pandemia
Na Esquerda, a geringonça pode não ser necessariamente com PCP, PEV e BE. A geometria inclui PAN e Livre, a quem Costa piscou o olho. Mas o PAN, único parceiro que não chumbou o Orçamento, admite também participar num Governo do PSD, mas dando sempre "prioridade às causas".
Já Catarina Martins registou com agrado que o PS deixou de falar em maioria absoluta, estando o BE disponível para "fazer pontes".
Pela CDU, que fez parte da campanha sem Jerónimo devido a uma cirurgia, João Oliveira disse que o discurso de Costa "não é muito diferente" do que ouvia em 2015. Na linha da frente, esteve João Ferreira, mas ficou em casa com covid-19. Os ajuntamentos numa pandemia que deixou candidatos em isolamento invadiram as televisões.
Para Soromenho-Marques, a campanha correu com "bastante normalidade" apesar da pandemia. Elogia a "maturidade cívica das pessoas" e a vacinação.