Dezenas de escolas do 1º ciclo e do pré-escolar encerram e estudantes dos restantes anos escolares vão ter um dia cheio de furos devido à adesão à greve de professores e educadores contra a proposta do Orçamento do Estado para 2023 que consideram desinvestir na educação e ignorar medidas para tornar a carreira mais atrativa
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À greve nacional convocada pela Federação Nacional de Professores (Fenprof), a Federação Nacional da Educação (FNE) e mais cinco sindicatos juntam-se professores de várias escolas de Lisboa, Coimbra, Évora, Beja, Portalegre, Faro, Porto e Funchal. Esta ação coincide com a audição do ministro da Educação, João Costa, no parlamento sobre a proposta que prevê 6,9 mil milhões de euros para o ensino básico e secundário e administração escolar, com um corte de 600 milhões de euros quando comparada com a estimativa para 2022.
As escolas primárias não tendo professores encerram, menos as que tiverem ATL, continuando a funcionar apenas para esse serviço. "Mesmo nas escolas que estão abertas há muitas circunstâncias de professores que não vão dar aulas", aponta João Dias da Silva, em declarações ao JN. É o caso das escolas básicas e do secundário que podem manter-se abertas, uma vez que não há greve de funcionários.
Por agora não é conhecida a totalidade de professores em greve, mas João Dias da Silva afirma esperar uma adesão elevada. O líder da FNE diz que a dimensão desta paralisação é sinal de que "os professores sentiram que esta é uma oportunidade para mostrarem a sua indignação", garantindo que "a FNE e os restantes sindicatos interpretaram bem a vontade dos professores", garante.
Escolas primárias encerram
Esta manhã, na Escola Básica da Fontinha, no Porto, poucos foram os pais que levaram os filhos à escola. Os pais já estariam informados de que aquele estabelecimento de ensino fecharia portas por motivo de greve. E, foi isto mesmo que a funcionária comunicou à porta da escola pelas nove horas em ponto: "Por motivo de greve e falta de professores, hoje não haverá aulas".
As quatro crianças acompanhadas pelos respetivos encarregados de educação abandonaram as instalações sem grande surpresa pelo alerta.
Em Coimbra estiveram fechadas as escolas primárias do Agrupamento Alice Gouveia.
Ensino Básico
A Escola Básica da Solum (Coimbra), que tem 253 alunos e 11 turmas, encerrou pela primeira vez. Em Évora fecharam quatro escolas básicas e no Machico (Madeira) a Escola Básica Santo António da Serra. Já em Lisboa, entre as que estiveram abertas, mas sem aulas, estavam as básicas Fernando Pessoa, Bairro Norton de Matos, a Santa Apolónia e Trouxemil.
Ensino Secundário
As escolas secundárias podem manter-se abertas, uma vez que não há greve de funcionários. Há, no entanto, vários "furos" a algumas aulas em escolas como a Clara de Resende (Porto), Filipa de Lencastre (Lisboa) e Quinta das Flores (Coimbra).
Greve dos professores com adesão a rondar os 90%
A adesão à greve dos professores, em protesto contra o que consideram uma falta de investimento do Governo na educação, estava hoje às 9.30 horas próxima dos 90%, à semelhança da paralisação anterior, segundo o secretário-geral da FNE.
"Os níveis de adesão estão muito próximos dos da greve anterior, ou seja, na ordem dos 90%. Há muitas escolas fechadas de norte a sul do país e outras estão abertas, mas não estão a decorrer aulas por falta de professores", afirmou João Dias da Silva, remetendo para mais tarde dados concretos sobre a paralisação.
Organizações exigem medidas para tornar a carreira atrativa
A Fenprof, a FNE, o Sindicato Nacional e Democrático dos Professores (SINDEP), a Associação Sindical de Professores Licenciados (ASPL) e o Sindicato Nacional dos Professores Licenciados pelos Politécnicos e Universidades (SPLIU), entre outras plataformas que se envolveram na greve, exigem correções na carreira, como a eliminação das quotas na avaliação, e nos horários, o combate à precariedade e a necessidade de promover o rejuvenescimento do setor. Uma ação que responde também ao discurso do ministro da Educação sobre as baixas fraudulentas e à intenção de transferir o recrutamento para os diretores das escolas.
"A questão é que se não há medidas para tornar a carreira atrativa, dificilmente teremos jovens que querem ingressar na carreira docente", sublinha Maria João Cardoso membro da FNE, em declarações à RTP.
Esta manhã a FNE tem estado a promover iniciativas sindicais em várias escolas do país. Já a Fenprof convocou uma concentração para esta tarde em frente à assembleia da República, a partir das 15 horas, durante a audição de João Costa.