Rotas alternativas procuram tornar a caminhada mais segura e espiritual. A mais recente, inaugurada na quinta-feira, liga Vila Nova de Gaia à Cova da Iria, num total de 200 quilómetros.
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Criados pelos municípios e pelo Centro Nacional de Cultura (CNC), os Caminhos de Fátima, que oferecem percursos seguros por vias secundárias e rurais, totalizam já 870 quilómetros. No entanto, a maioria dos peregrinos continua a preferir circular junto a estradas nacionais, com maior movimento de trânsito, arriscando a sua integridade física. Alegam distâncias mais longas, falta de sinalização e ausência de apoio ao nível da restauração e de áreas de descanso. Argumentos que, Margarida Franca, investigadora na área do turismo religioso e com experiência na organização de peregrinações, considera "um mito".
"As distâncias pelas rotas seguras não são muito maiores. Estamos a falar de diferenças na ordem dos dez quilómetros", aponta a especialista, dando como exemplo o Caminho do Centenário, inaugurado, esta quinta-feira, em Gaia, onde fica o quilometro zero desta rota que liga ao Santuário de Fátima, num total de 200 quilómetros. Pela EN109 ou pelo IC2, serão menos seis a oito quilómetros, segundo os cálculos feitos pela ferramenta google maps.
"Não vale o risco", defende Margarida Franca, frisado que, os caminhos alternativos estão "devidamente marcados" e dispõem já de equipamentos de apoio. Além disso, acrescenta, também permitem a circulação de grupos com elevado número de participantes, como aqueles que, por estes dias, circulam junto às estradas nacionais de acesso à Cova da Iria. Por outro lado, estas rotas permitem "uma experiência de peregrinação diferente, com momentos de contemplação, oração e de silêncio", proporcionados pela envolvência dos percursos, em contacto com a natureza, reforça a investigadora.
Cinco milhões de euros
Neste momento, existem cinco Caminhos de Fátima, três criados pelo CNC e dois pela Associação Caminhos de Fátima (ACF), constituída por municípios do Norte e Centro do País. O mais recente é o Caminho do Centenário, que atravessa os 14 municípios que integram aquela associação e, segundo o seu presidente, Pedro Pimpão, representou um investimento na ordem dos cinco milhões de euros, em sinalética, intervenção em vias e criação de infraestruturas de apoio.
Concluído agora, o Caminho do Centenário já tinha troços marcados há algum tempo, mas com poucos utilizadores. "Há uma tradição e cultura enraizada no peregrino de Fátima de querer chegar mais rápido e pelos percursos de sempre", reconhece Margarida Franca, defendendo que "é preciso mudar mentalidades", com sensibilização das comunidades locais, das paróquias e dos organizadores de peregrinações para a existência de rotas seguras e das suas vantagens.
Com os percursos executados, a ACF promete agora reforçar a promoção das rotas alternativas, que "garantem segurança" e que contribuirão para a "valorização dos territórios", salienta o presidente Pedro Pimpão. A convicção do dirigente, também presidente da Câmara de Pombal, é que, aos poucos, os caminhos criados irão conquistar adeptos e contribuir para reduzir "drasticamente" o número de peregrinos que circulam nas estradas nacionais, como o IC2, onde, em abril último, uma mulher foi atropelada mortalmente quando se dirigia a pé para o Santuário de Fátima.