A preparação individualizada da medicação está disponível em quase 300 farmácias e evita o agravamento da doença a idosos polimedicados. O INEM recebeu, em 2020, 2582 pedidos de ajuda por enganos na toma de fármacos.
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Quase 300 farmácias do país já fazem preparação individualizada da medicação, um serviço que está previsto na lei há três anos (desde abril de 2018) e que pode evitar o agravamento da doença, sobretudo em idosos polimedicados ou doentes crónicos, e custos acrescidos ao Serviço Nacional de Saúde. Todos os anos, o INEM recebe milhares de chamadas por erro terapêutico. Em 2020, o Centro de Informação Antivenenos registou 3556 contactos, dos quais 2582 por erros na toma de fármacos por adultos.
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A Associação Nacional das Farmácias (ANF) explica, ao JN, que "cerca de 10% das farmácias", ou seja, perto de 280 em todo o país, têm este serviço. A tendência é de alargamento. O serviço "é importante para as pessoas em termos individuais e também para o Serviço Nacional de Saúde em geral", destaca Duarte Santos, da ANF. O cenário de doentes idosos que tomam "cinco ou mais medicamentos por dia", em horários distintos, e que se enganam, devido a cansaço ou a confusão mental, não é raro, pelo que a necessidade da preparação individualizada da medicação é "extraordinária", afiança.
Os farmacêuticos dividem os comprimidos por dia da semana e por horário da toma, o que permite evitar falhas e duplicações (caso haja medicamentos receitados por médicos diferentes), identificar falta de adesão à terapêutica e detetar problemas associados à interação entre fármacos. O objetivo é evitar erros, proporcionando mais segurança aos doentes e tranquilidade aos cuidadores.
Enganam-se na hora
No primeiro trimestre deste ano, o Centro de Informação Antivenenos do INEM já recebeu quase meio milhar de chamadas devido a erros terapêuticos com adultos, ou seja, pessoas que se enganaram na toma dos medicamentos.
"Os erros mais frequentes passam por se enganarem na hora a que tomam os medicamentos ou a frequência - era para ser de 8 em 8 horas e tomam passado 4 horas. Também é normal tomarem um medicamento e depois outro para o mesmo fim, mas genérico, porque a caixa ou comprimido são diferentes", indica Fátima Rato, médica responsável pelo Centro de Informação Antivenenos, esclarecendo que a maioria das situações é "causadora de grande ansiedade". Em casos mais graves, os doentes recorrem diretamente às urgências dos hospitais devido ao agravamento do estado de saúde, sendo difícil quantificar esses episódios urgentes.
Para o Serviço Nacional de Saúde, diz o responsável da ANF, também tem vantagens. "Os medicamentos são comparticipados e a não adesão à terapêutica traz encargos extraordinários". Por um lado, medicamentos que foram adquiridos não são tomados. Por outro, "a não adesão à terapêutica faz com que haja maior risco de descontrolo da patologia, o que leva a custos associados com internamentos e/ou agravamentos de doença com outras consequências ou até morte".
A expectativa de Duarte Santos é de que o serviço seja alargado a mais farmácias nos próximos anos, até porque a população está a envelhecer. Para isso, é fundamental o "acompanhamento que os profissionais de saúde e os serviços sociais podem fazer para identificar pessoas que necessitam" desta ajuda. O preço da preparação individualizada da medicação é de cinco euros por semana. Mas, admite Duarte Santos, o apoio social dos municípios pode auxiliar as pessoas de baixos rendimentos que dele necessitam e não têm dinheiro, como acontece já em Águeda e em Mação.
Enganos
Milhares de chamadas por erro terapêutico
O Centro de Informação Antivenenos do INEM recebeu, em 2018, 5227 chamadas relacionadas com erros terapêuticos (3609 de adultos e as restantes com crianças). Em 2019, o número subiu para 5463 telefonemas (3712 relacionadas com erros de medicação em adultos e os restantes em menores). Em 2020, houve um decréscimo e registaram-se 3556 telefonemas (2582 erros terapêuticos em adultos), mas a pandemia poderá ter influência nestes dados. No primeiro trimestre de 2021, receberam 664 alertas por causa de erros terapêuticos, 499 dos quais referentes a adultos e os restantes a menores.