Na farmácia Nova, em Águeda, quem está atrás do balcão nem conhece Marília Torres, a mulher de 77 anos com dificuldades de locomoção para quem a filha, Marta, vai todas as semanas levantar uma caixa com os medicamentos "organizados" por dias e horários.
Corpo do artigo
A preparação individualizada da medicação (PIM) é "importante" para que a mãe não se esqueça nem se engane na hora de tomar os vários remédios que necessita para lidar com artroses, problemas cardíacos e depressão, conta a filha. No passado, antes de ter começado a recorrer a este serviço, Marta notara que a mãe nem sempre seguia as prescrições e, numa ocasião, até teve de "ir ao hospital" devido aos enganos. "A gaveta dos comprimidos era uma confusão", descreve.
13710380
Desde que há três anos pediu na farmácia para que separassem os medicamentos da mãe, Marta já não se preocupa tanto. Achou-o tão "seguro", que o requereu depois para os sogros. E até o tio Aníbal equaciona vir a solicitá-lo. Os cinco euros que paga por semana, diz, "valem bem a pena, pelo descanso e segurança" que proporcionam.
Em casa, ao receber a caixa, a idosa Marília confessa que nem sempre é fácil lidar com tanta medicação. "Por vezes pegamos nos remédios e nem sabemos bem qual é para tomar".
Na caixa dispensadora, aprovada pelo Infarmed, estão separados todos os comprimidos para uma semana. Foi preparada por profissionais de saúde e teve uma "dupla verificação", conta a farmacêutica Márcia Martins, referindo que há um registo contínuo do lote dos medicamentos, para haver rastreamento em caso de problemas, e toda a informação é "passada ao doente" ou cuidadores. As embalagens dos medicamentos ficam guardadas na farmácia, sendo os doentes avisados atempadamente quando é necessário pedir nova receita para evitar falhas.
Como os doentes ou cuidadores têm de ir à farmácia todas as semanas levantar uma nova caixa dispensadora, os farmacêuticos aproveitam para fazer um "acompanhamento" e tentar perceber "como se estão a dar com a medicação e se está a correr tudo bem", acrescenta Márcia Martins.
Na Farmácia Nova, o serviço começou a funcionar há cerca de três anos e, atualmente, é usado por três utentes. Ao balcão, porém, os profissionais apercebem-se que poderiam ser mais.
"Há doentes que parecem baralhados. Explicamos a mesma coisa duas e três vezes e, passado um dia, voltam a perguntar como tomam. Por vezes estão a tomar dois medicamentos parecidos, com o mesmo efeito terapêutico, porque foram a médicos diferentes", revela a diretora Rosa Cerveira. Nem sempre é fácil vencer as resistências. "Os idosos não reconhecem as dificuldades ou incapacidade em tomar conta da medicação, sentem que é falta de autonomia", acrescenta.
O serviço, considera Rosa Cerveira, também poderá ser útil para quem viaja ou vai de férias, pois "a alteração de rotinas pode levar a esquecimentos".