Rápido crescimento do número de animais leva autarcas, agricultores e caçadores a pedir medidas urgentes de controlo.
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O aumento "exponencial" da população de javalis tem provocado prejuízos de norte a sul do país, com a destruição de culturas agrícolas, acidentes de viação e até ataques a rebanhos. Agricultores, associações de caçadores e autarcas pedem medidas "urgentes" de controlo da espécie, advertindo que, a par do agravamento do abandono dos campos, há riscos sanitários associados, por exemplo, à propagação da peste suína africana.
Segundo Jacinto Amaro, presidente da Federação Portuguesa de Caça, estima-se que a população de javalis esteja a crescer a um ritmo de "10% ao ano". Uma "brutalidade", constata, chamando a atenção para a "perda de biodiversidade" e para os riscos para a saúde animal.
"São veículos de propagação de doenças. Se não forem tomadas medidas acutilantes para reduzir o número de javalis, há risco de virmos a ter um problema grave ao nível sanitário", adverte o dirigente. Entre as medidas mais prementes, Jacinto Amaro aponta os apoios ao tratamento dos "subprodutos" dos javalis abatidos, como as vísceras, e a autorização de montarias e de outros atos de caça fora do período definido (de outubro a fevereiro).
Já este ano, e reconhecendo o problema, o Instituto de Conservação da Natureza criou um período de correção extraordinária, entre 1 de julho e 30 de setembro, e autorizou a realização de batidas com cães em culturas agrícolas afetadas pelos javalis.
abandono nos campos
Positivo, mas insuficiente, alega Jorge Garcia, presidente da Associação de Caça e Pesca de Oleiros, onde são "inúmeros" os prejuízos causados pelos javalis, afetando, sobretudo, pequenos agricultores e idosos com "parcas reformas", sem meios para vedar os terrenos e que, por isso, "desistem" de tratar a terra.
"A tendência é para o agravamento do abandono dos campos", antevê Carla Chamiça, residente em Cambas, também em Oleiros, que desistiu de cultivar as propriedades que tinha, limitando-se agora a fazer uma horta junto à casa, num terreno vedado. "Nada parece resistir aos javalis. Milho, batatas, árvores de fruto. Tive de plantar duas vezes as couves para o Natal. No ano passado, teimei em semear batatas. Um dia cheguei e estava tudo virado".
"é desesperante"
No Alentejo, além da destruição de culturas de milho, há registo de ataques a rebanhos. "Já me comeram uma dúzia de borregos. No verão, foi o milho. É desesperante", desabafa António Feijão, de Mora.
"Ou tomam medidas de controlo ou teremos uma praga ainda maior", reforça Nuno Mendes, que preside à associação de Sarnadas de São Simão, em Oleiros, que tem uma secção de caça. O dirigente pede mais apoios à atividade, que "tem sofrido uma redução de praticantes", e menos "entraves à caça".