Mais cirurgias. Mais consultas. Mais urgências. Aumento da procura que fez dilatar os tempos de espera no Serviço Nacional de Saúde (SNS). Assim foi a atividade hospitalar no ano passado. Administradores hospitalares dizem ser impossível fazer mais sem mais meios. Aos médicos preocupa-os a métrica da qualidade.
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O maior acréscimo registou-se na atividade cirúrgica, com os cuidados de saúde hospitalares a realizarem 705 522 cirurgias, o que se traduz num aumento de 5% face a 2018, ano em que, depois consecutivas subidas, a produção recuou 0,3% na sequência das greves que abalaram o SNS. Foram realizadas mais 33,5 mil cirurgias. O valor mais alto desde que há registos.
Daquele total, 86% estavam programadas, sendo que as 101 mil remanescentes foram urgentes. Face a anos anteriores, o peso das urgentes não sofreu oscilações. De referir que dentro das programadas, dois terços foram realizadas em ambulatório, sem necessidade de internamento, quando em 2013 rondavam os 55%.
As consultas médicas hospitalares, por sua vez, registaram uma subida de 1,87% face a período homólogo, para um total de 12,415 milhões. Em linha com anos anteriores, aumentaram tanto as primeiras consultas, como as subsequentes.
O que impacta na procura, sublinha o presidente da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares: "Aumentando o acesso a consultas também aumenta a necessidade de cirurgia". O que impacta, por sua vez, nos tempos de espera. "Ainda não estamos a acompanhar o aumento da procura. Sem mais recursos e uma reorganização do trabalho não será possível".
Tempos pioram
De acordo com os dados mais recentes do Portal da Transparência do SNS, em novembro de 2019 eram mais de 47 mil os utentes a aguardar por cirurgia já fora do Tempo Máximo de Resposta Garantido. Correspondendo a 19,7% dos 243 mil inscritos, mais 3,5 pontos percentuais do que em período homólogo de 2018.
E para o bastonário da Ordem dos Médicos é esta a métrica que "interessa, a da qualidade". Sublinhando "não deixar de ser importante o aumento" da atividade assistencial, a Miguel Guimarães preocupa ter "tempos clínicos minimamente aceitáveis".
A pressionar a procura continuam as urgências, com o Governo a falhar sucessivamente a meta de baixar o número de atendimentos. O ano passado não foi exceção, com novo recorde: 6,426 milhões de episódios de urgência, 52% dos quais referentes a pulseiras vermelha, laranja e amarela, as mais urgentes na triagem de Manchester.
Por isso, o bastonário defende ser importante perceber se as recomendações feitas há cerca de dois anos e meio por um grupo técnico independente, liderado por si, sobre o acesso à saúde foram ou não adotadas.
OE2020
Menos 190 mil
É ambiciosa a previsão inscrita na nota explicativa do Ministério da Saúde no Orçamento do Estado (OE) de 2020. Depois dos serviços de urgência terem recebido, no ano passado, mais 60 mil novos episódios, para o corrente ano a meta é reduzi-los em 0,9%: são menos 190 mil urgências.
Reforço de 8,9%
Depois de um aumento de 5% na atividade cirúrgica (0,9 pontos percentuais abaixo das previsões da tutela), o objetivo é, neste ano, operar mais 63 mil utentes, para um total de 774 mil cirurgias.
Consultas
As primeiras consultas, que representam 29% do total, deverão aumentar 5% em 2020, para os 3,778 milhões. Até ao final do ano, a tutela estima que sejam realizadas mais 331 mil consultas médicas.
Tempos de espera
O Ministério lançou, no ano passado, um "plano para recuperação de consultas e cirurgias". Contactada pelo JN, a tutela fez saber que a avaliação do mesmo está a ser ultimada.