A presidente do Conselho Português para os Refugiados considera "inadmissível" que as organizações nacionais estejam há dois meses à espera dos refugiados, que vivem situações dramáticas nos campos onde aguardam transferência.
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A decisão de Portugal acolher cerca de 4500 pessoas, ao abrigo do Programa de Relocalização de Refugiados na União Europeia (UE), foi avançada em setembro passado e as organizações envolvidas neste processo criaram um plano de acolhimento, mas continuam ser saber a data da chegada do primeiro grupo.
"A situação é inadmissível e choca, perante a necessidade de saída urgente de pessoas. É chocante que o ritmo seja tão lento", criticou Teresa Tito de Morais, em declarações à agência Lusa, acrescentando que "a espera está a ser pesada, porque os dispositivos estão preparados para acolher as pessoas, mas elas não vêm".
A responsável do Conselho Português para os Refugiados (CPR) adiantou que as organizações sentem uma "certa revolta" em relação à lentidão do processo e questionou porque é que apenas a Suécia e a Finlândia receberam refugiados no âmbito do Programa de Relocalização da UE.
"A Europa tem de ser responsabilizada por não estar a atuar com a rapidez e urgência que se impõe", criticou Teresa Tito de Morais, lembrando que além de Portugal, também a Espanha e a França continuam a aguardar a chegada de pessoas, que vivem em situações desumanas amontoadas em campos de refugiados.
Esta quarta-feira, o primeiro grupo de 30 migrantes partiu de Atenas para o Luxemburgo, ao abrigo do plano europeu para redistribuir as pessoas pelos 28 Estados-membros, de modo a aliviar a pressão em países como a Grécia e a Itália.
O diretor executivo da Frontex, a agência de controlo de fronteiras europeias, também divulgou novos números: durante 2015 foram registadas 800 mil entradas ilegais de migrantes.
Segundo os últimos dados da agência para os refugiados da ONU, mais de 744 mil cruzaram o Mediterrâneo este ano, a maioria em direção à Grécia.
Nas declarações à Lusa, Teresa Tito de Morais questionou porque é que Portugal continua a aguardar a chegada de refugiados que estão em Itália, e cujo processo está "a ser muito lento", e não acolhe pessoas que estão na Grécia.
Sobre um possível aumento das quotas por países, Teresa Tito de Morais defendeu que a UE tem de fazer mais por estas pessoas e que 4500 refugiados para Portugal é um número muito pequeno, mas que, "neste momento, o mais importante é passar das decisões às práticas", ou seja, começar receber os que já estão previstos chegarem.
Entretanto, deverão chegar a Portugal outras 45 pessoas, que serão alojadas em Lisboa, Sintra e Penela, ao abrigo do Programa de Reinstalação de Refugiados em que Portugal, desde 2007, se obriga a acolher anualmente um mínimo de 30 refugiados.