Para atrair profissionais que trabalham à distância, territórios despovoados precisam de ter boa rede e garantia de bem-estar.
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Os nómadas digitais poderão contribuir para atenuar o despovoamento galopante do Interior do país. São pessoas que têm o escritório num computador portátil e podem trabalhar em qualquer lado. Regiões como Trás-os-Montes, Douro e Beiras podem ser opção para naturais que queiram regressar, para descontentes com a vida na grande cidade, para os que prefiram fazer teletrabalho em territórios mais tranquilos, ou para os que elegem locais específicos em busca de inspiração para um projeto. Mas há uma condição incontornável: uma boa rede de Internet.
"É aqui que entra o 5G, que vai trazer oportunidades fantásticas", realça, ao JN, Diogo Reffóios Cunha, fundador da Nómada Digital Summit. Na sua opinião, desde que exista no Interior, "poderá haver condições para que este tipo de trabalhadores se instale", mesmo que seja apenas temporariamente.
Embora Reffóios Cunha admita que "o 5G não é obrigatório" para muitas das tarefas que os nómadas digitais desempenham, Domingos Carvas, vice-presidente da Comunidade Intermunicipal do Douro, tem consciência que "não é com uma rede 3G ou 4G, que caem de cinco em cinco minutos, que se conseguem atrair pessoas".
O também autarca de Sabrosa acredita que estes profissionais podem ser uma oportunidade para as regiões de baixa densidade populacional, mas também sabe que "não precisam só de uma secretária, ou de paisagem classificada ou de um de rio refrescante. Precisam de ter infraestruturas capazes de os levar ao resto do Mundo".
Ricardo Bento, docente e investigador da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, concorda com Domingos Carvas e, à necessidade de "ter garantias de conectividade, nomeadamente ao nível do futuro 5G", ainda acrescenta a garantia de bem-estar. Ou seja, "acesso à saúde, cultura e outros bens essenciais", pois "não há territórios atrativos só pela paisagem, qualidade do ar e da água". Desde que essas condições sejam asseguradas, Ricardo Bento acredita que "para territórios de baixa densidade, pode ser uma oportunidade que deve ser explorada para atrair algum capital humano com grandes competências".
Qualidade do local
Diogo Reffóios Cunha não considera utópico ter nómadas digitais a repovoar o Interior. "Tudo depende da qualidade do local. O nómada pode estar só três meses, mas se se sentiu bem, poderá voltar". Entretanto, também "fez uma grande promoção do território e outros podem seguir o exemplo".
Até porque, sublinha Diogo, apesar de os nómadas poderem trabalhar em qualquer lado, também "precisam de uma base estável, onde tenham as suas coisas e se sintam bem". A dele é em Lisboa. Neste momento está no Porto. "Criativamente, esta cidade inspira-me", sublinha, pelo que a mudança por três meses será "mais proveitosa" para um projeto de marketing que está a desenvolver. No verão vai mudar-se para o Algarve. Mais tarde pode ir para Trás-os-Montes ou para o Douro.