Autarca de quatro aldeias foi obrigado a comprar antenas para os alunos terem aulas à distância.
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Bela Ramos, professora, perde a conta às vezes que, ao longo dia, anda à procura de rede de voz e dados por Granja, aldeia da União de Freguesias de Silva e Águas Vivas, em Miranda do Douro. "Sei que há locais onde tenho sinal, muito fraco, mas a intensidade não é igual todos os dias. Aqui em frente à minha casa, há um cantinho em que tenho um risquinho no sinal. Se estiver mau tempo, já não", diz a docente do programa de insucesso escolar no Agrupamento de Escolas de Vimioso.
Durante o período de confinamento, com ensino à distância, "os problemas foram mais do que muitos", admite Bela, tudo por causas das dificuldades de conexão à Internet, que não lhe permitia fazer o acompanhamento dos alunos através da plataforma Zoom. "Tinha que me deslocar à escola, a 15 quilómetros, para aceder à Internet, mas nem sempre estava aberta e voltava para casa e ia à sede da Junta. Foi difícil trabalhar. Os alunos aqui da freguesia iam para a sede da Junta de Freguesia, na aldeia de São Pedro da Silva, onde existe equipamento para aceder à Internet comprado pela autarquia", revela Bela Ramos.
Nesta freguesia não será fácil aos moradores conseguir chegar aos ditames da Carta Portuguesa de Direitos Humanos na Era Digital, aprovada recentemente pela Assembleia da República, para garantir a universalidade do acesso à Internet. Nas quatro aldeias que compõem a União de Freguesias (São Pedro da Silva, Águas Vivas, Granja e Fonte Ladrão), "já é difícil falar ao telemóvel, quanto mais aceder à Internet", asseguram. "Para telefonar tenho de subir ao primeiro andar de casa", conta Fátima Marques, agricultora.
5000 euros para ter rede
A melhor zona para apanhar sinal de rede móvel e Internet é junto à sede da Junta e no café de São Pedro da Silva, uma aldeia onde moram 80 pessoas. A autarquia fez um investimento superior a 5000 euros para instalar antenas que reforçam a captação do sinal. "Com esta solução a coisa melhorou um pouco. Tivemos que resolver desta maneira porque, na primeira fase do ensino à distância, os alunos ficaram desvalidos", explica o autarca Silvino Silva, que foi informado pela Anacom - para onde escreveu várias vezes a explicar as dificuldades - que a rede é assegurada pela Nos. Já escreveu à operadora várias vezes. "Não me responderam", lamenta.
Em São Pedro da Silva, quem está habituada a ver a juventude de telemóvel na mão no verão, ali nas imediações da sede da Junta, é Albertina Pires. "Vêm para aí, por causa da Internet", confirma a reformada.
Sem telemóvel, Adília Magalhães não se interessa por estes problemas, tal como os restantes 22 habitantes com mais de 80 anos da aldeia.