Alteração no BE será a quinta mexida desde a maioria absoluta. IL e CDS foram quem mais mudou, Chega será o único resistente. Marcelo diz que situação é natural: perante um PS maioritário, Oposição tem de se "reformular".
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Os partidos com assento parlamentar já mudaram dez vezes de líder desde 2015, ano em que António Costa chegou ao poder. Oito dessas alterações ocorreram à Direita: três no CDS (que esteve no Parlamento até 2022), três na IL e duas no PSD. Quando a saída de Catarina Martins se consumar no BE, o Chega passará a ser o único a ter escapado, até agora, à mudança de cadeiras (o Livre tem liderança coletiva, tal como o PEV, que deixou São Bento há um ano). Até o PCP, que só tinha tido três secretários-gerais desde 1974, já se estreou nessas lides.
A alteração no BE será a quinta mudança nas lideranças desde que o PS alcançou a maioria absoluta, em janeiro de 2022 - as outras ocorreram no PSD, IL, PCP e CDS. Ontem, o presidente da República considerou a situação natural: face a um PS maioritário, as oposições "têm de se reformular".
"Reformular significa, de um lado e outro, terem de pensar qual é o seu papel no futuro, que alternativas oferecem", explicou Marcelo Rebelo de Sousa. Só assim o país terá as opções necessárias caso um dia se sinta "cansado" do Governo atual, defendeu.
Direita vive indefinição
A criação da geringonça, no final de 2015, abalou a Direita. Desde que está no poder, o primeiro-ministro já conviveu com 12 líderes dessa área política: viu saírem Passos Coelho no PSD e Paulo Portas no CDS, tendo depois testemunhado a ascensão e queda de Rui Rio e Assunção Cristas.
Ao JN, o politólogo José Adelino Maltez explica que, embora as dez mudanças tenham causas diferentes, também possuem algo em comum: "foi o eleitorado que despediu esses líderes". A Direita foi mais fustigada por viver "uma grande indefinição" sobre "o que vai oferecer" ao país e "quando o fará", refere.
António Costa Pinto relativiza o impacto direto das ações do primeiro-ministro nessas alterações. Considera que boa parte ocorreu porque, quando se está longe do poder, há mais "oportunidade" para promover novas caras numa conjuntura "que não é imediatista em termos eleitorais".
O PSD mudou duas vezes de líder desde 2015, e até podia ter mudado mais. Isto porque Rio, que sucedeu a Passos, foi forçado a ir a votos por duas vezes - por Luís Montenegro e Paulo Rangel -, vencendo em ambas. Após a maioria absoluta do PS, entrou Montenegro.
Maltez explica esta instabilidade com o facto de um partido como o PSD "exigir vitórias": nem Marcelo Rebelo de Sousa conseguiu "aguentar" quando foi líder, recorda. A rutura pré-eleitoral com o CDS de Portas, em 1999, precipitou a saída.
A IL, último partido a refrescar a chefia (em janeiro), fê-lo pela terceira vez em cinco anos de história. Em 2018, Carlos Guimarães Pinto sucedeu a Miguel Ferreira da Silva e, em 2019, entrou Cotrim Figueiredo; agora, face à decisão de Cotrim sair, e dada a indisponibilidade de Guimarães Pinto para regressar, Maltez diz que a IL "correu as roletas" até chegar a Rui Rocha.
Também o CDS viveu três mudanças de liderança desde 2015. Portas saiu logo após a criação da geringonça, rendido por Cristas. Esta chegou a confessar o sonho de ser primeira-ministra, mas afastou-se depois de, em 2019, o partido ter perdido 13 deputados. Com Rodrigues dos Santos, o CDS deixou o Parlamento e, com Nuno Melo, tentará voltar.
PCP e BE sem "chanceler"
Maltez sublinha que, à Esquerda, tanto PCP como BE têm lideranças coletivas, totalmente diferentes do "pessoalismo" de PS e PSD. Ao contrário do que ocorre nas duas maiores forças políticas, nem comunistas nem bloquistas são partidos "com chanceler", explica.
O politólogo frisa que, no caso do PCP, o secretário-geral é apenas um "intérprete" de decisões coletivas; o que muda são questões de estilo, como os "provérbios" que Jerónimo de Sousa usava e a que Paulo Raimundo poderá recorrer menos. De resto, a própria designação secretário-geral - e não presidente - remete para uma dimensão coletiva.
O PAN mudou uma vez de líder desde 2015. Aconteceu em 2021, com a substituição de André Silva - que se tem mantido longe dos holofotes - por Inês Sousa Real.
Questionado sobre os motivos por que o Chega ainda não substituiu o líder, Maltez diz que o partido é "monopessoal". Por isso, "confunde-se com André Ventura", o chefe incontestado.