Tem faltado mão de obra no setor quando Comissão Europeia, Proteção Civil e IPMA deixam avisos sobre perigos de incêndios rurais.
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Os proprietários estão a pagar mais 20% pela limpeza dos seus terrenos, que, este ano, está a ser feita sobretudo por pequenas empresas, e começou mais cedo do que é habitual. Mas, segundo os empresários do setor, falta mão de obra para cumprir esta obrigação que os detentores dos terrenos rurais (florestais ou agrícolas) têm de cumprir até final de abril, num momento em que a Comissão Europeia e a Proteção Civil preveem um verão muito seco, com risco agravado de incêndio. O arranque deste ano foi melhor do que o de 2022, mas, ainda assim, nos últimos três meses, o número de fogos rurais já ultrapassou o total registado de janeiro a março de 2021, tendo consumido mais de seis mil hectares.
Entre janeiro e março deste ano, ocorreram 1566 incêndios rurais em Portugal, que resultaram em 6086 hectares de área ardida em povoamentos (1329), matos (4692) e agricultura (65), segundo dados do Sistema de Gestão de Informação de Incêndios Florestais. O valor registado no primeiro trimestre de 2023 é o sexto mais elevado em número de incêndios e o 4.º mais alto de área ardida, desde 2013 (ver infográfico). As ocorrências ficaram, para já, longe dos registos do ano passado, quando houve dois mil incêndios em três meses e se ultrapassou largamente os oito mil hectares ardidos.
Os primeiros nove dias de abril já acrescentaram à lista de 2023 mais de 750 hectares ardidos e cerca de três centenas de fogos. E, com temperaturas máximas acima da média nesta época pascal, a Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil lançou, na semana passada, um aviso sobre o perigo elevado de incêndio rural.
No entanto, o verão já preocupa. No dia 20 de março, a Comissão Europeia alertou para a probabilidade de um verão ainda mais seco nos países europeus do Mediterrâneo e do Sul do que nos anos anteriores, onde se inclui Portugal. Vários especialistas ouvidos pelo JN explicam ser ainda cedo para fazer previsões sobre o risco de incêndio para o verão, assinalando, contudo, que as temperaturas e a pluviosidade neste mês de abril serão determinantes para essa avaliação.
O presidente do Instituto Português do Mar e da Atmosfera, Miguel Miranda, adverte que, neste momento, "estamos com valores muito elevados de perigo de incêndio. Tivemos dezembro e janeiro muito chuvosos que melhoraram muito a nossa situação anterior, mas também amplificaram a produção vegetal praticamente em todo o território". Seguiram-se dois meses - fevereiro e março - "muito secos" e, "se tivermos, agora, um terceiro mês [abril] muito seco, vamos ter uma situação complicada para gerir", explica Miguel Miranda, assinalando que o "risco de incêndio depende muito dos dias sem chuva prévios a cada situação".
300 A dois mil POR HECTARE
Os donos de terrenos rurais têm de proceder à limpeza até ao dia 30. Já os proprietários em espaço urbano têm até 31 de maio. No próximo mês, a GNR faz a fiscalização, e o valor mínimo das multas por incumprimento é de 150 euros. Os preços médios que estão a ser apresentados aos proprietários situam-se entre 300 e 400 euros por hectare, para terrenos fáceis de limpar, e 1500 a dois mil euros, em zonas mais complicadas, garante, ao JN, Pedro Serra Ramos, presidente da Associação Nacional de Empresas Florestais, Agrícolas e do Ambiente. Fala de um aumento "na ordem dos 20%" face a 2022 nos orçamentos, que atribui a fatores como o preço dos combustíveis, equipamentos e material de substituição.
As empresas começaram a ser contratadas "mais cedo do que é habitual". E a limpeza tem sido feita sobretudo "por pequenas empresas", porque as maiores estão ao serviço do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, explicou, avisando que "a falta de mão de obra é clara". Para hoje, tem marcada uma reunião com o ministro do Ambiente. Insistirá que "as empresas não aguentam estar paradas", como no verão passado, por estarem proibidas de entrar na floresta em dias de maior risco (ler texto na página seguinte).
Seis aviões e 140 bombeiros na Guarda
Mais de cem incêndios rurais deflagraram, ontem, por todo o país, com destaque para o fogo no vale do Mondego que obrigou a fechar os passadiços (por causa da nuvem densa de fumo) e mobilizou 140 bombeiros, 45 viaturas e seis meios aéreos.
O alerta foi dado às 10,20 horas, na Vila Soeiro, na Guarda. O presidente da Câmara local, Sérgio Costa, não tem dúvidas de que se tratou de fogo posto. Certo é que a topografia do terreno, o calor e o vento forte dificultaram o combate às chamas.
Ao início da noite, pelas 21 horas, o incêndio foi dado como dominado, embora a Proteção Civil perspetivasse uma noite longa e de muito trabalho para os operacionais. "Os acessos são muito difíceis e há zonas onde só se pode combater apeado", explicou o comandante António Pereira. No entanto, não foi preciso retirar a população.