Lisboa dividiu-se entre a anti-imigração e o antirracismo: dois jovens agredidos foram detidos
As manifestações que decorreram hoje à tarde, em Lisboa, uma anti-imigração e um contraprotesto antifascista, ficaram marcadas por alguns desacatos com populares que assistiam aos protestos, com o corpo de intervenção da Polícia a recorrer à força. Pelo menos dois jovens foram detidos e quatro identificados.
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Mais de mil pessoas saíram às ruas do centro de Lisboa, este domingo, na manifestação “Salvar Portugal”, convocada pelo Chega, contra o que alega ser uma “imigração descontrolada” causadora de “insegurança nas ruas”. Com bandeiras de Portugal, do partido da extrema-direita e da monarquia, os manifestantes desceram a Avenida Almirante Reis a partir da Alameda, a zona da capital que concentra o maior número de imigrantes, com destino ao Rossio.
“Já não há maneira, controlem a fronteira” e “Nem mais um” foram algumas das palavras de ordem que ecoaram pelas ruas. No protesto, esteve presente praticamente todo o grupo parlamentar do Chega, bem como vários dirigentes do partido e vereadores de várias regiões do país.
Um grupo de dezenas de membros movimento de extrema-direita 1143, acompanhado pelo líder, Mário Machado, integrou a manifestação ainda na Alameda. Antes da marcha partir, André Ventura escusou-se de comentar sobre a presença dos elementos do grupo neonazi, dizendo que "toda a gente que venha a esta manifestação venha por bem". O líder do Chega reiterou ainda, em declarações aos jornalistas, o "grande esforço" do partido para que o protesto fosse seguro.
Ao longo do percurso, alguns civis reagiram à passagem da marcha. Perto da zona dos Anjos, três jovens que gritavam “25 de Abril sempre, fascismo nunca mais” acabaram por ser agredidos por manifestantes. Rapidamente a Polícia interveio, imobilizando no chão duas das vítimas das agressões, um rapaz e uma rapariga, que foram detidos.
O JN tentou apurar se os autores das agressões foram identificados ou detidos, tendo o Comando Metropolitano de Lisboa (Cometlis) da PSP respondido não ter conhecimento das agressões. A mesma fonte avançou que duas pessoas foram detidas, todavia sem conseguir confirmar se se tratam dos dois jovens detidos nos Anjos como constantou o JN no local.
Identificados quatro manifestantes do protesto do Chega
Em comunicado, a PSP avança que "há a registar dois detidos, um homem e uma mulher de, respetivamente, 25 e 28 anos, por resistência e coação a funcionário". Foram ainda identificados "quatro indivíduos que integravam a manifestação promovida pelo partido Chega por infração à lei de segurança privada."
Pela mesma zona da Avenida Almirante Reis, duas mulheres mais velhas no passeio colocaram os punhos no ar viradas para a multidão. A ação foi vaiada pelos manifestantes entre gritos e insultos. “Vocês são umas traidoras”, ouviu-se entre a manifestação barulhenta ao som de tambores e apitos.
Três centenas no protesto anti-fascista
Minutos antes, perto da Igreja dos Anjos, também se deu um momento de maior tensão. Um grupo de cerca de 20 ativistas anti-fascistas com as caras cobertas com lenços, alguns em apoio à resistência na Palestina, aguardavam, em silêncio, a passagem da marcha.
Rapidamente os dois lados foram cercados pela Polícia para evitar confrontos diretos. “Mostra a cara”, grita um dos manifestantes com uma bandeira de Portugal na mão. “Somos todos humanos”, ouve-se em resposta do outro lado.
À passagem no Largo do Intendente, onde decorria a contramanifestação anti-fascista “Não Passarão”, em defesa da comunidade imigrante, as palavras de ordem voltaram a ganhar tom. "Fascistas, racistas, não passarão", gritavam em uníssono as cerca de três centenas de manifestantes anti-fascistas naquele largo.
A zona foi cercada por várias carrinhas da Polícia de intervenção de forma a evitar confrontos. Os dois protestos decorreram em simultâneo, mesmo depois de a PSP ter dado parecer negativo à Câmara de Lisboa. Os números oficiais da participação de ambos os protestos só deverão ser conhecidos na segunda-feira.
Além do corpo avolumado da PSP, apoiado pela Unidade Especial da Polícia, também a Amnistia Internacional acompanhou a marcha com uma equipa de três observadores, identificados com coletes, para garantir assistência em caso de conflito, que terão manifestado essa intenção ao grupo parlamentar do Chega assim que foi agendado o protesto.
O percurso também foi sempre acompanhado por dezenas de militantes e funcionários do Chega vestidos com coletes amarelos que faziam um cordão de segurança na frente e nas laterais da manifestação, e tentaram pacificar os ânimos nos momentos de tensão.