Registados em média quatro casos por dia em 2022 na plataforma Notifica. Governo fala num aumento de denúncias, após uma quebra em 2020 e 2021.
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Mais de 1600 casos de violência contra profissionais de saúde foram registados na plataforma Notifica, ao longo do ano passado. Trata-se de um aumento do número de denúncias, após uma quebra de notificações em 2020 e 2021. Feitas as contas, em média, foram reportados 136 casos por mês. Mais de quatro por dia. Os dados, cedidos ao JN pelo Ministério da Saúde, mostram que a maioria das situações se refere à zona Norte e à região de Lisboa e Vale do Tejo. São as áreas do país "com maior número de utentes e atividade no Serviço Nacional de Saúde" (SNS), diz a tutela. Médicos, enfermeiros e assistentes técnicos são os principais grupos profissionais com mais reportes. Cerca de 10% dos registos foram referentes a violência física.
Os casos de violência na saúde levaram, em 2021, o Ministério Público a instaurar 101 inquéritos. Os números de 2022 ainda não estão consolidados. Ainda assim, segundo a Procuradoria-Geral da República, os dados provisórios preliminares apontam para cerca de sete dezenas de inquéritos.
Para os sindicatos, os números são "extremamente preocupantes". Joana Bordalo e Sá , da Federação Nacional dos Médicos (FNAM) alerta que os dados podem não espelhar a realidade. Até porque há profissionais que não reportam os casos.
Sinalizar o agressor
Hugo Cadavez, do Sindicato Independente dos Médicos (SIM), deixa o mesmo alerta e pede "medidas ágeis e concretas" para travar estes episódios que "marcam profundamente os profissionais agredidos". O SIM propõe, entre outras medidas, a "sinalização do doente" agressor, bem como a existência de "portas de fuga" e de botões de pânico nos gabinetes.
De acordo com o Ministério da Saúde, em 2022, foram registados 1632 casos de violência contra profissionais de saúde no sistema Notifica, uma plataforma de notificação de incidentes na saúde. O número total de situações, segundo a tutela, traduz "um novo aumento do reporte" após "a diminuição das notificações em 2020 e 2021", dois anos marcados pela pandemia.
A par de uma possível "maior conflitualidade", a tutela acredita que os dados espelham "igualmente o apelo que tem vindo a ser feito junto das instituições para sensibilizar os profissionais para a importância desta comunicação".
Nos últimos três anos, a violência psicológica (incluem-se agressões verbais, injúrias, comentários ofensivos e ameaças) esteve na origem de mais de metade dos casos reportados (69%). Já a violência física representou, no ano passado, 10% dos registos. As situações de assédio moral motivaram 12% das notificações.
"A violência sobre os profissionais de saúde é um fenómeno que o ministério acompanha com elevada preocupação", referiu o gabinete de Manuel Pizarro, garantindo que "conhecer, prevenir e intervir sobre esta realidade no SNS é da maior importância". Há um ano, o Governo aprovou um plano para a prevenção da violência na Saúde e a constituição de um gabinete dedicado a este tema.