Pavilhões fazem falta e há câmaras que não aceitam continuar a suportar despesa para atividade que não é excecional.
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A decisão de manter os centros de vacinação abertos nos próximos meses para administrar a vacina da gripe e uma eventual terceira dose da covid-19 não é consensual entre os autarcas. Uns foram apanhados de surpresa, outros souberam há uma semana, mas pouco ou nada foi discutido com os parceiros locais que pagam os custos das estruturas e disponibilizam recursos humanos.
Os municípios estavam a planear fechar os espaços nos próximos dias, devolvendo-os à sua função original, quando foram alertados para a mudança de rumo.
Para os portugueses, o primeiro sinal chegou anteontem com o primeiro-ministro a afirmar que os centros de vacinação se manteriam abertos, para o caso de ser necessário administrar uma terceira dose da vacina contra a covid-19. Ontem de manhã, uma nota da task force referia que os centros de vacinação "serão, em breve, empenhados na vacinação da gripe" (ler ao lado).
As reações dos autarcas ouvidos pelo JN dividem-se: há disponibilidade para manter a ajuda, mas também há fortes críticas ao Governo. "As câmaras assumem todos os custos com os centros de vacinação, são dezenas de milhares de euros por mês. Quem tem de vacinar os cidadãos é o Ministério da Saúde", reage Ribau Esteves, presidente social-democrata da Câmara de Aveiro e vice-presidente da Associação Nacional de Municípios Portugueses.
Paulo Cunha, líder da Autarquia de Famalicão corrobora. "Uma coisa é o contexto de contingência da pandemia, outra coisa é a permanência do centro de vacinação para algo que é habitual. Não consigo compreender, é a total falência do SNS", refere o autarca do PSD, que deixa a decisão para o sucessor. Em Famalicão, acrescenta, o centro ocupa uma infraestrutura desportiva que é necessária.
Também em Mafra, "o pavilhão faz falta para as atividades letivas desportivas", diz o presidente Hélder Sousa Silva, lamentando este "já agora" do Governo.
Joaquim Pinto Moreira, de Espinho, garante que o tema "não foi de todo conversado com as autarquias". O autarca do PSD está disponível para ajudar, mas realça que os funcionários afetos à vacinação "fazem falta às escolas, pavilhões gimnodesportivos e piscinas municipais".
Despesa elevada
Na Póvoa de Varzim, Aires Pereira (PSD) não aceita continuar a assumir a despesa do centro de vacinação, que foi criado para uma situação excecional e que já custou mais de 250 mil euros à Câmara. "Os centros de saúde e as USF têm de voltar a abrir as portas aos utentes", reclama.
Dentro do PSD, há quem concorde com a decisão. Ricardo Rio, autarca de Braga, frisa que até lançou o repto à ARS Norte de manter o centro aberto até final de outubro. Carlos Carreiras, de Cascais, entende que não faz sentido desmobilizar. "Ficaremos o tempo que for necessário", diz.
Em Gondomar, o socialista Marco Martins refere que, a partir de segunda-feira, a área e os recursos humanos afetos ao centro de vacinação serão reduzidos, mas a colaboração manter-se-á, tal como já aconteceu no ano passado com a vacinação da gripe a decorrer em instalações municipais.
A Câmara de Vila Real, presidida por Rui Santos (PS), foi contactada pela task force há uma semana. Por ali, o centro de vacinação fica aberto até quando for preciso, porque "a saúde está em primeiro lugar".
O JN questionou o Ministério da Saúde, mas não recebeu resposta.