Está atento e não perdoará uma má execução. Foi este o "recado" que Marcelo Rebelo de Sousa deixou, olhos nos olhos, esta manhã, à ministra da Coesão Territorial, Ana Abrunhosa. O Presidente da República referia-se ao PRR (Plano de Recuperação e Resiliência) e garante que, se isso acontecer, esse será um dos dias "super infelizes" da ministra.
Corpo do artigo
"Super infeliz para si será o dia em que eu descubra que a taxa de execução dos fundos europeus não é aquela que eu acho que deve ser. Nesse caso não lhe perdoo. Espero que esse dia não chegue, mas estarei atento para o caso de chegar", afirmou o chefe de Estado, no discurso da cerimónia de inauguração do novo edifício dos paços do concelho da Trofa.
No final, com Ana Abrunhosa de um lado e Luís Montenegro do outro, Marcelo clarificou o "recado": "Estava a pensar no PRR, porque o resto sei que vai avançando. Mas o PRR é muito dinheiro que podemos utilizar e chegar ao seu destino está a demorar", frisou.
Em maio, o Conselho das Finanças Públicas dava conta que Portugal só executou 13% da despesa prevista no PRR nacional para 2021. Em termos globais e apesar das promessas oficiais de aceleração na aplicação dos fundos, a taxa de execução ronda, agora, os 5%. Marcelo já tinha pedido "máximo aproveitamento" e "transparência" na aplicação da "bazuca" europeia. Agora, deixa um aviso mais sério a Ana Abrunhosa. Questionada pelos jornalistas, a ministra da Coesão Territorial recusou comentar o aviso.
Revisão constitucional: é importante "ter tudo certinho"
Ainda à margem da inauguração, Marcelo recusou falar sobre a revisão constitucional. O Presidente da República, lembrou, "não risca nada" no que toca à revisão constitucional, mas é importante "ter tudo certinho" em casos de emergência sanitária.
"Eu não tive problemas de consciência quanto ao regime do Estado de Emergência. Esperemos que não haja mais pandemias, mas, se houver, é bom ter tudo certinho, porque o Estado de Emergência foi adaptado para uma emergência, mas não foi pensado para isso", afirmou Marcelo Rebelo de Sousa.
Na cerimónia, foi inaugurado o novo edifício dos paços do concelho da Trofa, um investimento de 11 milhões de euros. O município, o único dos 308 que ainda não tinha sede própria e que funcionava, há 24 anos, provisoriamente, numa vivenda familiar. Marcelo lembrou a criação do concelho, que acompanhou enquanto líder da oposição e sempre "pressionado" pelo líder parlamentar, Luís Marques Mendes, e o PS, "na altura contra", e agora "entusiasta e apoiante da obra".
Ana Abrunhosa diz que se "fez justiça" e lembrou os muitos anos que 60 pessoas trabalharam "num edifício sem acessibilidades, com o executivo com gabinetes em quartos e casas de banho transformadas em arquivo"
Um espaço "pensado para o futuro", "autossustentável", num edifício que vem dar uma nova vida à velhinha fábrica Rações Trofense e que, ao mesmo tempo, "tem muito da história do concelho", explicou o presidente da Câmara da Trofa, Sérgio Humberto, que considera que este é o segundo dia mais importante da Trofa, depois da elevação a concelho a 19 de novembro de 1998.