Ano hidrológico começou com pouca chuva. APA não prevê restrições. Rega de Odelouca pode ser afetada.
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Metade das 12 bacias hidrográficas controladas pela Agência Portuguesa do Ambiente (APA) apresentavam, em novembro - um dos mais severos dos últimos onze anos -, níveis de armazenamento inferiores a 50% das suas capacidades. Em oito, o enchimento era inferior às médias.
Segundo o boletim de novembro do armazenamento das albufeiras, das 60 monitorizadas pelo Sistema Nacional de Informação de Recursos Hídricos (SNIRH), seis apresentavam disponibilidades hídricas superiores a 80% e 15 estavam abaixo dos 40% do volume total. Em termos de bacias hidrográficas, apenas as do Douro, Ribeiras do Oeste, Guadiana e Arade estavam acima das médias.
Trata-se de um agravamento da situação no segundo mês do ano hidrológico 2021/22, iniciado em 1 de outubro. A situação de descida deve-se à baixa precipitação nestes dois meses, que as fortes chuvas do final de outubro não resolveram, e também aos usos de água e à evaporação, explicou a APA ao JN.
Segundo os dois últimos boletins climatológicos do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), a quantidade de precipitação em outubro foi de 87,7 milímetros, próxima do normal para a série 1971-2000.
Mas novembro foi o terceiro mais seco dos últimos 90 anos, com apenas 17% do valor normal de 109,4 mm. No final do mês, 30,3% do território continental estavam em situação de seca moderada a severa.
A APA garante que não estão em causa os usos prioritários da água, pois os volumes "são suficientes, nem se prevê, para já, que haja problemas de garantias para os outros usos". Por outro lado, "não se preveem problemas nas origens de água para abastecimento".
Lindoso e Barlavento
Analisando as diferenças entre os volumes registados no mês de novembro de cada ano desde 2011, em comparação com as percentagens médias de enchimento nos períodos desde o ano hidrológico 1990/91, o JN concluiu que 2017 foi o ano em que, nesse mês, se verificaram desvios negativos na quase totalidade das bacias (escapou o Arade). Na bacia do Lima, atingiu 30,6 pontos percentuais, na do Ave, 26,1 e 25,8 na do Sado.
No mês passado, na senda do que acontece desde 2019, como a infografia enfatiza, os desvios negativos foram muito mais expressivos, segundo a análise a partir dos dados do SNIRH.
Na bacia do Barlavento, onde o volume médio de armazenamento em novembro é de 59,4%, a disponibilidade hídrica era de apenas 13,9%, ou seja, menos 45,5 pontos percentuais. Em novembro de 2020, o desvio fora de 46,9 pontos.
"Caso não haja recuperação durante o período húmido deste ano, pode vir a ser necessário fazer algumas restrições ao nível da rega agrícola" na albufeira da Bravura, indicou a APA.
Na do Lima, Alto Minho, a descida é igualmente muito significativa: menos 38,9 pontos, de 55,6% de volume médio para um registado de 16,7%.
A redução é determinada pela situação na albufeira do Alto Lindoso, que estava a 13,9% da sua capacidade, tendo deixado a descoberto as ruínas da aldeia galega de Aceredo. A APA reconhece que os volumes estão abaixo aos observados noutros anos, mas dentro dos limites autorizados para a produção de energia.
Quantidade em redução acentuada desde o ano 2000
A quantidade de água regista uma redução muito acentuada desde 2000 em todas as bacias hidrográficas, com uma diminuição de cerca de 15% da precipitação e a elevada procura deste recurso, traduzida num volume captado por ano de seis mil milhões de metros cúbicos, divididos quase em partes iguais entre origens superficiais e subterrâneas, com a agricultura a consumir 70%. As conclusões são de um estudo sobre disponibilidades hídricas para a tomada de decisões de gestão da água nas próximas décadas, segundo o qual a bacia hidrográfica do Mira está em situação crítica, com a falta de água a afetar também as do Ave e do Leça. O estudo, liderado pelo Instituto Superior Técnico, ajudará decisões como o licenciamento de captações. Mais de 20 mil pedidos entram todos os anos na Agência Portuguesa do Ambiente (APA).
Outros dados
2020/21 crítico
O ano hidrológico de 2020/21 também registou níveis baixos de armazenamento. Nas bacias do Mira e do Barlavento, as variações foram negativas em todos os 12 meses, sendo mais graves em janeiro de 2021, com -33,2 pontos na primeira e -50,7 na segunda. Na do Lima, aconteceu em nove meses, com a maior variação (-28,2 pontos) em novembro de 2020.
Alto Lindoso
A albufeira do Alto Lindoso, no rio Lima, tem características especiais, que ajudam a explicar os níveis baixos (embora os atuais o sejam demasiado): nesta altura, o volume é deliberadamente reduzido, para ganhar capacidade de encaixe em caso de precipitação intensa.