Responsáveis da mobilidade reconhecem ser necessário alterar cidades e comportamento dos condutores.
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As câmaras municipais querem apostar na acalmia do tráfego rodoviário e impulsionar os modos de mobilidade suave, como a bicicleta, a trotineta e o andar a pé. Da lista de municípios contactados pelo JN, muitos garantem que a implementação de zonas 30 ou de limites de velocidade nos concelhos promoveu uma maior segurança rodoviária, como mais conforto para os peões, e uma melhoria da qualidade do ar.
"A preocupação com a velocidade das viaturas é muito visível, nomeadamente nas áreas residenciais. O retorno tem sido muito positivo", refere Carlos Mouta, vereador da Mobilidade e Transportes da Câmara Municipal de Matosinhos, que diz terem sido feitas alterações no espaço urbano, como um novo posicionamento das passadeiras, a colocação de lombas ou criação de espaços de parqueamento para as bicicletas.
O município tem várias zonas 30 (Leça da Palmeira, Senhora da Hora, São Mamede de Infesta e Matosinhos), algumas delas localizadas perto de zonas habitacionais, escolas ou centros de saúde. Um pouco à semelhança do que acontece noutros locais do país, que apostam na diminuição da velocidade em zonas centrais das cidades.
No concelho da Moita, no distrito de Setúbal, há apenas uma zona 30. No entanto, fonte da Câmara afirmou ao JN que "foi iniciada uma nova obra de reconversão viária para Zona 30" da antiga Estrada Nacional 11-1 da Baixa da Banheira, onde está prevista a "redução do perfil da via" , "complementada por passagens de peões, zonas de estacionamento, ciclovia e passeios mais largos com árvores".
Medidas impopulares
"É preciso alterar todo o desenho urbano para que, por coação psicológica e por alterações físicas da infraestrutura, não se consiga andar a mais de 20 ou 30 km/h", explica Ana Bastos, autora principal do manual sobre zonas 30 da Segurança Rodoviária. A também vereadora da Câmara Municipal de Coimbra, com o pelouro da Mobilidade e dos Transportes desde outubro passado, admite que a aplicação de zonas 30 "ainda não vingou em Portugal".
Parte da explicação prende-se com a impopularidade da medida e com os custos associados à alteração do desenho urbano. "Quando colocamos restrições ao veículo automóvel, de uma forma geral [os cidadãos] reagem mal", afirma.
Já Carlos Mouta diz que há "um trabalho comportamental a fazer" junto dos condutores, que vai desde o cumprimento das regras rodoviárias à consciencialização da importância da circulação pedonal nos meios urbanos.
À lupa
Zona 30
Inclui uma rua - ou um conjunto de ruas - dirigida a todos os utentes da via, onde a velocidade máxima dos veículos não deve exceder os 30 km/h. As entradas e saídas das zonas 30 devem estar devidamente sinalizadas (sinais G4 e G8).
Zona de coexistência
Via pública concebida para a utilização partilhada de peões e veículos, onde vigoram regras especiais de trânsito, como a velocidade máxima de 20 km/h (sinais H46 e H47).
ZAAC
Zonas de acesso automóvel condicionado a determinados tipos de utilizadores, para parar, circular e estacionar os veículos. O regulamento é definido pelas autarquias.
Cidades a 30 km/h
Localidades onde a maior parte da malha urbana tem o limite de 30 km/h. A decisão parte maioritariamente das autarquias, mas em Espanha foi o Governo a impor o limite de velocidade em 70% das ruas.
"Superblocks"
Medida aplicada em Barcelona, que consiste em "superquarteirões": bairros de nove quarteirões, onde o tráfego acontece do lado de fora das vias, deixando espaço livre para peões e ciclistas.