Há mutações do vírus SARS-Cov-2 a serem identificadas em todo o Mundo, mas a grande maioria não deverá ter influência sobre a eficácia das vacinas desenvolvidas.
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Em Portugal, o Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA), já identificou mais de centena e meia de mutações no novo coronavírus responsável pela doença covid-19.
Hoje, o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, anunciou novas restrições, após a recente descoberta de uma nova variante do coronavírus. Suspeita-se que esta se transmita mais rapidamente e a Organização Mundial de Saúde já foi informada. Ainda não se sabe se é mais perigosa ou se terá impacto na eficácia das vacinas desenvolvidas.
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De acordo com Jaime Nina, infeciologista do INSA, "há uma enorme quantidade de mutações, a maioria das quais torna o vírus ineficaz ou não têm impacto. São raras as que podem ser significativas", pelo que se devem evitar "decisões precipitadas". Em maio, o INSA deu nota que já encontrara 150 mutações genéticas, número que já terá chegado aos 600.
As "mutações que poderão ter impacto na vacina são aquelas que afetam o alvo da vacina, que é o Spike, ou seja, o ligante que o vírus usa para encontrar o recetor da célula hospedeira". A proteína Spike é a responsável pela ligação do vírus às células humanas e consequente infeção, pelo que tem sido o principal alvo de estudo para o desenvolvimento de vacinas.
A mutação que foi agora detetada no Reino Unido incide na "Spike", refere o infeciologista, mas "ainda não se sabe se terá impacto nas vacinas", sublinha.
Pedro Simas, virologista do Instituto de Medicina Molecular João Lobo Antunes, sublinha que as mutações nos vírus são "normais". No caso do novo coronavírus, diz, até há muito menos do que no da gripe.
Mudanças "abruptas"
O virologista não descarta a possibilidade da nova variante no Reino Unido ter implicações na eficácia das vacinas, mas acredita que o risco é "baixo".
Vitor Borges, investigador da unidade de bioinformática do departamento de doenças infecciosas do INSA, diz que ainda é "precoce" saber se a variante do Reino Unido "é mais resistente aos anticorpos que a vacina faz o organismo produzir", pelo que é necessário aguardar por mais estudos. A variante britânica tem algumas mutações na spike e "tem aumentado muito de frequência, o que quer dizer que tem boa capacidade de transmissão", acrescenta.
Em Portugal, diz Vítor Borges, "também já tivemos variantes que, em determinados pontos geográfico, expandiram de maneira abrupta com grande frequência".