Primeiro-ministro disse que portugueses não querem dissolução do Parlamento e acusa líder do PSD de não excluir acordo com Chega. Alerta que vai demorar quatro anos a executar PRR.
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"Quando se põe em causa os mandatos conferidos pelo povo, está a pôr-se em causa a democracia. Quem quer democracia forte respeita os mandatos". Foi com este aviso que António Costa respondeu, de uma vez só, à Oposição e a Marcelo Rebelo de Sousa, prometendo chegar "à meta" sem eleições antecipadas. E deixou outro recado: vai demorar todo o mandato a executar o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR). Já em entrevista à RTP, defendeu que "os portugueses não querem dissolução nenhuma" e destacou que Luís Montenegro ainda "não disse que não haverá acordo com o Chega".
No Porto, onde festejou os 50 anos do PS, garantiu que o mandato é para cumprir até ao final, após o presidente da República ter afirmado que "às vezes tem de haver más notícias", comentando o cenário de eleições antecipadas, quando tinha rebentado a polémica sobre contradições entre ministros quanto à existência de um parecer a fundamentar as demissões na TAP.
"Com o diabo e o chega"
No Pavilhão Rosa Mota, onde foi recebido com protestos (ler página 9), defendeu que, "em democracia, temos o dever de honrar os nossos mandatos". E reafirmou a prudência que o impede de dar "um passo maior do que a perna" na ação do Governo. "Não podemos tropeçar pelo caminho. Não haverá dois passos atrás, e iremos chegar à nossa meta", assegurou.
E "que não se iluda a Direita: sabemos bem que Roma e Pavia não se fazem num dia e que o PRR não se executa num ano". Portanto, "cá estaremos os quatro anos para executá-lo até ao último ano e liderar a maior oportunidade que temos tido nos últimos anos. Acho que é por isso que eles têm bastante pressa de se verem livres de nós", prosseguiu Costa, acusando o PSD de querer ficar com o PRR.
Diz que "tentam tudo". "Já tentaram com o diabo, agora até tentam com o Chega, mas não chegam para nós e chegaremos para eles, porque, connosco, eles não passam", prometeu.
"Sempre que nos desafiaram, fomos à luta e, sempre que fomos à luta, soubemos ganhá-la", avisou depois, citando António Guterres: "Dizia-nos: nervos de aço". De qualquer modo, "os políticos não servem para criar problemas ao país". Ideia que também defendeu na RTP. Instado sobre novas legislativas, afirmou que "as pessoas não estão nem aí. Já tivemos eleições há um ano" e "votaram na estabilidade para quatro anos". Estabilidade que diz ser hoje ainda "mais importante". Além disso, "temos de nos habituar a respeitar a vontade dos cidadãos", insistiu.
Sobre o PSD, Costa crê que Montenegro não foi claro quando disse que não faz acordos com "políticas ou políticos racistas ou xenófobos, oportunistas ou populistas". "Não disse o que era necessário", que "não haverá acordo com o Chega", criticou o líder do PS. Montenegro "quer manter uma situação equívoca" e que "se distinga pouco o PSD para os eleitores do Chega", mas deveria ter dito "com o Chega nada, nada, nada".
Considerando depois que o PSD "não corresponde àquilo que é um partido institucional", avisou que o populismo é um "vírus que se vai transmitindo". E é preciso "usar as máscaras e vacinarmo-nos" contra ele.
Já questionado sobre o putativo candidato à sua sucessão, Costa referiu que Pedro Nuno Santos "é, indiscutivelmente, um dos grandes quadros políticos do PS".
Alega postura institucional e não fala de parecer Intervenções nos 50 anos do PS
Costa ataca PSD por usar comissão de inquérito à TAP como "arma de arremesso"
Após ter sido desafiado por toda a Oposição a esclarecer a polémica em torno da fundamentação jurídica das demissões na TAP e das contradições entre três ministros, António Costa repetiu o que o seu secretário-geral-adjunto no PS já tinha dito e insistiu que "deve manter a postura institucional e respeitar os outros órgãos de soberania". Aliás, até sublinhou que, pelo mesmo motivo, não comenta os vetos de Marcelo Rebelo de Sousa, o mais recente dos quais visou o projeto da eutanásia. Sem esclarecer se existe ou não um parecer jurídico que fundamente as exonerações da CEO e do chairman da TAP, Costa preferiu falar, em termos gerais, da comissão parlamentar de inquérito. Num ataque a Luís Montenegro, que o acusou de "cobardia política e de falta de liderança" nesta matéria, o primeiro-ministro defendeu que as comissões não devem ser "arma de arremesso político", caso contrário "perdem a sua credibilidade".
Por isso, declarou que também o presidente do PSD deveria "aguardar pelos resultados" dos trabalhos da comissão, em vez de, "a cada depoimento, querer transformá-lo num episódio da semana".
Costa diz mesmo estar "perplexo" por Luís Montenegro, que tem a ambição de ser primeiro-ministro, comentar os desenvolvimentos de uma comissão de inquérito em curso.
Intervenções nos 50 anos do PS
Manuel Alegre, dirigente histórico do PS: "O presidente da República não tem de fazer ameaças. Mas ele não vai dissolver [o Parlamento], porque o PS é um garante da estabilidade política em Portugal".
Eduardo V. Rodrigues, líder distrital PS/Porto: "Se aqui e acolá tivermos de dizer que nem tudo correu bem, estamos a fazer uma coisa que a Direita não sabe fazer: reconhecer que somos humildes, que também temos falhas".
Miguel Costa Matos, líder da Juventude Socialista: "O PS está em crise? Uma mentira repetida muitas vezes não se torna verdade. Vamos honrar até ao fim o mandato".
Isilda Gomes, líder dos Autarcas Socialistas: "O PS nasceu para estar ao serviço das pessoas, e não de corporações, oligarquias, ordens profissionais ou sindicatos".
Pedro Sánchez, Presidente da Internacional Socialista e primeiro-ministro espanhol: "O Partido Socialista não é apenas a referência da social-democracia aqui, em Portugal. Hoje, também o é no continente europeu".