Querem dizer o ansiado sim e ficar juntos na saúde e na doença, mas a covid-19 impediu milhares de noivos de concretizarem o sonho de casar em 2020.
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Com os números oficiais fechados, sabe-se agora que o ano que trouxe a pandemia foi, igualmente, aquele em que se realizaram menos casamentos, desde sempre. A quebra é de 56% nos matrimónios em comparação com 2019. Também nunca houve tão poucos divórcios como no ano passado, mas a quebra é inferior e fixou-se nos 16% em relação a 2019.
Os números, cedidos pelo Ministério da Justiça ao JN, mostram que o Instituto dos Registos e do Notariado contabilizou 22 627 casamentos ao longo de 2020. No ano anterior, tinham sido 51 917 assentos de casamento registados, entre civis e católicos, de cidadãos nacionais e estrangeiros, no mesmo instituto. Há poucas dúvidas de que a pandemia foi a responsável por tamanha quebra, até porque os números mensais demonstram que os meses de maior confinamento foram, também, aqueles em que se casou menos. Se para os noivos foi o adiar de um sonho, para as empresas que dependem do setor foi ainda pior do que os números demonstram. É que uma boa parte dos 22 627 casamentos realizados em 2020 não teve festa ou cerimónia associada, o que deixou os empresários mergulhados numa profunda crise de faturação.
Audição no Parlamento
Mais de 100 empresas, inquiridas pela BestEvents, que é responsável pela organização de feiras nacionais e internacionais dedicadas ao casamento, apontam para uma perda de faturação média de cerca de 90%. Esta quebra é explicada pelo facto de se terem realizado só 16,8% das celebrações previstas. Por esse motivo, Jorge Ferreira, da BestEvents, pede ao Governo "uma mensagem de confiança" e "uma previsão de data para o setor começar a operar".
Para muitas empresas ligadas ao setor, a solução pode estar na realização de testes rápidos. Um grupo de quatro empresários vai ser ouvido, esta semana, na Assembleia da República, depois de terem reunido cerca de 1800 assinaturas com a petição "pelo regresso dos casamentos e das cerimónias equiparadas". Pedem a comparticipação do Estado na aquisição de testes rápidos para a deteção do coronavírus e na aquisição de sistemas de filtragem do ar e de câmaras germicidas.
Ao contrário do que foi aventado no confinamento da primeira vaga, em março do ano passado, o número de divórcios não cresceu. Bem pelo contrário. Os dados do Ministério da Justiça mostram que 2020 foi o ano com menos divórcios de sempre. Foram 13 428 casais oficialmente separados, menos 16% do que em 2019. Desde 2015 que o número de divórcios está em queda, mas, também aqui, os números podem não espelhar a realidade social.
Rute Agulhas, psicóloga, docente do ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa, explica que "muitos casais ainda não se divorciaram por questões de casa e económicas, mas a decisão já está tomada". Rute está a terminar um livro sobre o divórcio no confinamento e não tem dúvidas que "muitos casais estão por um fio", o que significa que o número de divórcios oficiais, registado pelo Estado, "ainda não reflete a realidade".
Dois terços das uniões foram adiadas
A maioria dos casamentos de 2020 (66,2%) foi adiada para este ano, 7,7% foram adiados para 2022 e 26,1% dos casamentos foram cancelados, revela o estudo da BestEvents. O mesmo estudo mostra que houve 55,8% das empresas do setor que não conseguiram remarcar alguns dos serviços e, destas, 38% foram obrigadas a devolver o sinal aos clientes. As quintas para casamentos só estão a adiar os casamentos agendados até maio. As cerimónias marcadas para este verão mantêm-se à espera de novidades do Governo. A esperança é de que o número de casos baixe e se criem regras para festejar em segurança.
Pormenores
Faturação zero
Entre as empresas ligadas ao setor dos casamentos, 18% não faturaram nada em 2020, revela o estudo da BestEvents. Ainda em termos de faturação, 34,2% das empresas tiveram perdas de cerca de 90% e cerca de 20% dos inquiridos tiveram uma quebra de 80%.
Abril foi o pior
O mês de abril do ano passado foi o pior em número de casamentos e de divórcios. Isto explica-se pelo facto de muitas lojas do cidadão e conservatórias do registo civil terem encerrado o atendimento presencial devido ao número de casos da primeira vaga da pandemia.