Após a quarentena, há mais gente a querer perder peso e o jejum é dos regimes mais praticados. Especialistas encontram vantagens e lembram que nada se consegue sem exercício físico.
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Na batalha sobre qual a melhor dieta para emagrecer, apenas há consenso em três aspetos: é preciso comer menos, consumir menos calorias e aumentar a massa muscular. Nutricionistas, dietistas, médicos e desportistas não são unânimes sobre a forma mais eficaz para perder peso. O jejum intermitente, o novo regime alimentar da moda, colhe alguns benefícios junto dos especialistas, mas não é para toda a gente.
"Durante a quarentena, com os ginásios fechados e com o medo de andar na rua a caminhar, as pessoas ficaram em casa a comer e agora toda a gente quer perder peso e não sabe como", explicou ao JN um personal trainer (PT) que trabalha num dos maiores ginásios de Braga. Para ele, para perder peso é preciso "malhar e fechar a boca".
"O excesso de peso atinge 60% dos portugueses adultos e isto é muito grave", disse José Camolas, vice-presidente da Ordem dos Nutricionistas e defensor acérrimo da adoção de regimes alimentares mais "leves e saudáveis" e da prática de exercício físico.
Essencial é comer menos
Também a nutricionista Zélia Santos lamenta a multiplicação de "dietas disseminadas que promovem a rápida e célere perda de peso, desprovidas de intervenção nutricional". "Toda a dieta para emagrecimento é hipocalórica porque ninguém perde peso se não comer menos calorias do que aquelas que gasta", frisou a endocrinologista Isabel do Carmo.
No vasto leque de dietas que ganharam relevo este verão, o jejum intermitente é o que tem mais seguidores. As redes sociais, a publicação de livros e a divulgação em programas de televisão e rádio sobre a forma como diversas pessoas emagreceram depois de começarem a fazer jejum de 12, 16 ou 24 horas, impulsionou a adesão a este método.
Na prática, quem o pratica está sem comer, no mínimo, 12 horas e depois come carne, peixe, legumes e fruta com fartura e poucos ou nenhuns hidratos. Pão, massas, batatas e arroz estão na lista negra.
"Para perder peso, o jejum não é melhor nem pior do que qualquer outro sistema", frisou José Camolas que, assim como recomenda "outras dietas", também tem pacientes a fazer jejum "com sucesso".
A médica Isabel do Carmo diz que é uma dieta "relativamente inocente". "Há provas de que podem ter benefícios" tanto os jejuns intermitentes como as dietas hipocalóricas. "Pode ter algumas potencialidades mas em determinado contexto clínico", esclareceu Zélia Santos, que não concebe a prática de qualquer dieta sem a intervenção personalizada de um nutricionista.
"As dietas são pessoais e intransmissíveis e, tal como os medicamentos, não são para receitar aos amigos ou familiares", frisou José Camolas. E avisa: "é preciso desconfiar sempre de todas a dietas e de todos os produtos que dizem emagrecer sem sacrifício. Isso não existe".
Joana Rolo Silva criou o grupo "Jejum Intermitente" em Portugal
Ganha-se energia e dá clareza mental
Há sete anos, depois de ter o segundo filho, Joana Rolo Silva, agora com 39 anos, decidiu que tinha de mudar o estilo de vida. "Estava muito gorda e sentia-me mal física e psicologicamente", recorda Joana. Residente em Setúbal e a trabalhar com terapias da medicina tradicional chinesa, começou (juntamente com o marido) por fazer "uma dieta tradicional de grelhados".
"Ficámos fracos, sem força e sem resultados", frisou. Na procura de soluções, descobriram a dieta paleo, aumentando "as gorduras e retirando os hidratos". Depois de ouvir falar no jejum intermitente, Joana foi pesquisar e descobriu que este era o sistema que mais se adaptava à sua forma de vida.
"Em criança e adolescente, sempre tive muita dificuldade em comer de manhã. O meu organismo rejeitava a comida e percebi que, afinal, o que eu devia era manter o jejum por várias horas. Jantava e só voltava a comer no almoço do dia seguinte", explica.
Criou, no Facebook, o grupo "Jejum Intermitente em Portugal" que já tem quase 5 mil membros e diz que, além de perder peso, o jejum lhe permite ter "uma enorme clareza mental". "É uma forma de vida que só me traz vantagens. Faço desporto em jejum, bebo água, chá ou café, mas fico sem comer, no mínimo 12 horas", disse Joana.
Com dois filhos de 17 e 7 anos, já não há stress em casa da família por causa do pequeno-almoço. "Se eles quiserem comem; se não quiserem, comem mais tarde" tal como os pais. Normalmente, a família termina o jantar às 20 horas e só volta a comer às 12 horas do dia seguinte: "Tentamos almoçar e jantar peixe gordo ou carne com legumes e poucos ou nenhuns hidratos de carbono".
A decisão de fazer jejuns não foi entendida por toda a gente e, inicialmente, a família e os amigos "resmungavam" com Joana e diziam-lho que ia "ficar fraca" e que tinha de comer "de três em três horas".
"As pessoas acabaram por aceitar o jejum porque perceberam que tanto eu como o meu marido estamos mais saudáveis, mais magros e mais felizes". De resto, o casal também aprendeu a "não ligar às críticas" e continua a jejuar. Pelo caminho, e graças ao seu exemplo, Joana já convenceu muitas pessoas a experimentar e a adotar a prática de jejum intermitente. "As pessoas experimentam e a grande maioria sente-se muito bem, perdendo peso e ganhando mais energia e mais clareza mental", finalizou.