Foi pela voz do seu fundador, o professor Francisco Gentil, que o Jornal de Notícias deu a conhecer aos seus leitores o trabalho do Instituto Português de Oncologia (IPO), numa reportagem que mereceu destaque de primeira página, na edição de 24 de abril de 1937.
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"O professor diz apenas o que é preciso, o bastante para nos dar uma ideia nítida, exata e justa do terrível flagelo", descreveu, assim, o JN, "as emocionantes palavras" de Francisco Gentil sobre o Instituto que criou a 29 de Dezembro de 1923, na altura com a designação de Instituto Português para o Estudo do Cancro (IPEC) e com sede provisória no Hospital de Santa Maria, em Lisboa.
Foi em 1927, que o agora IPO inaugurou o seu primeiro pavilhão, designado por A, num terreno com sete hectares, comprado nesse ano. Dois anos depois, era inaugurado o Pavilhão B, destinado a consultas das especialidades de dermatologia e urologia. Atualmente o IPO de Lisboa tem dez pavilhões, 283 camas e 2030 trabalhadores, dos quais 360 médicos, 590 enfermeiros e 260 técnicos de saúde.
Quando o Instituto recebeu a visita do JN já se designava de IPO há sete anos mas ainda só funcionava em Lisboa. A unidade de Coimbra apenas surgiu em 1953. E o tão desejado centro do Porto, referido na notícia com a pertinente pergunta "Quando chega a hora do Porto?", apenas surgiu em abril de 1974.
Em 1937, o IPO de Lisboa, apelidado pelo JN como "um símbolo energético de vida", tinha operado, em dois anos, 974 doentes, feito 54.830 consultas, 127.827 tratamentos por rádio e 13.185 análises. Estavam inscritos 20.750 doentes.
"Os que de longe vieram, tocados já pela mão gelada da morte, reanimam-se. O Instituto é a suprema esperança de todos", escreveu o jornalista, sublinhando que em todos os trabalhadores do IPO "um pensamento comandava: vencer e esmagar o cancro".
"Tudo aquilo está bem arrumado, tudo aquilo tem um princípio, meio e fim, ou como costumamos dizer, cabeça tronco e membros", descreveu ainda o JN aquele que considerou ainda como sendo "o mais forte baluarte da luta contra o cancro".
Na reportagem, o título é tão atual que poderia integrar uma qualquer reportagem da edição de hoje do JN: "Ninguém está livre de ter cancro!". E as palavras de Francisco Gil bem poderiam também ser repercutidas pelos atuais responsáveis das três unidades do IPO: "Mais se faria se o público reforçasse com o seu auxílio material as dotações do Estado"