"O tempo de agir é agora": ativistas pelo clima querem bloquear terminal de gás em Sines
Mais de duas centenas de ativistas e civis pretendem bloquear, este sábado, a entrada do terminal de gás natural liquefeito no porto de Sines numa ação de resistência civil. Defendem o fim da exploração deste combustível fóssil e reclamam eletricidade 100% produzida a partir de energias renováveis até 2025.
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A manhã de sábado promete ser diferente no terminal da Redes Energéticas Nacionais (REN) em Sines: por volta das 10 horas, um grupo de ativistas e civis pretende bloquear de forma pacífica, com os próprios corpos, a "entrada principal de gás fóssil em Portugal" parar travar a normalidade das atividades, naquela que esperam ser "a maior e mais disruptiva ação de sempre do movimento por justiça climática em Portugal", contou, ao JN, Hugo Paz, 25 anos, um dos porta-vozes da ação.
Por esta unidade passam todos os anos mais de 5,5 mil milhões de metros cúbicos de gás no seu estado líquido que é armazenado e posteriormente regaseificação para uso, aponta o jovem. "As empresas fósseis continuam a cometer crimes ao fazer lobbying para a Europa continuar a investir em gás fóssil quando nós sabemos que a crise climática, bem como a crise de custo de vida, têm sido levantadas pelo gás fóssil", defende.
Os ativistas comprometem-se, por isso, a confrontar a indústria fóssil para urgir uma mudança que responda verdadeiramente às alterações climáticas. "Se não fizermos nada, e se não acabarmos com o gás fóssil até 2025, eventos climáticos extremos vão acontecer em todo lado, ao mesmo tempo e vão ser mais difíceis de mitigar, com prejuízos para as populações. Em Portugal, 40% do nosso território está em seca e os pequenos produtores no Baixo Alentejo não têm água. Espanha também enfrenta a mesma seca. Já no Sul da Ásia estamos a ver uma onda de calor extrema com temperaturas nos 45.ºC, e o mesmo no Canadá", alerta o jovem.
Protestos em escolas e universidades
O protesto foi anunciado, no início do ano, pela plataforma "Parar o Gás" e, nas últimas duas semanas, estudantes de vários pontos do país têm ocupado escolas e faculdades em várias locais. O objetivo era conseguir que 1500 pessoas se comprometessem a participar. Até agora, a lista de subscritores da ação conta com mais de 230 assinaturas de pessoas de todas as idades, vindas de norte a sul do país, e de vários movimentos ambientais e sociais. Muitos vão juntos de autocarros autofinanciados de Lisboa, do Porto e de Coimbra até Sines. "Não vamos de comboio porque não temos uma ferrovia decente", afirmou
Agem todos sobre uma única bandeira: pôr fim à exploração de combustíveis fósseis por uma transição energética necessária para combater as alterações climáticas. Questionado se têm algum receio da resposta das forças de segurança, Hugo Paz aponta que o receio pelo futuro de todos é maior: "Tenho é medo se não tomarmos ação para resolver a crise climática. O tempo para agir é agora", adverte.
ng>"Governos continuam a falhar"
Uma urgência partilhada por Catarina Viegas, 28 anos, também porta-voz do protesto. "As decisões que tomamos e os passos que damos agora vão ser decisivos para evitar o caos numa altura em que os governos e as instituições continuam a falhar. A forma de enfrentar este sistema e a sua máquina tem de ser coletiva e isso implica definitivamente algum confronto e disrupção da normalidade", alerta a jovem.
Nas últimas semanas, o movimento organizou formações para a ação de massa e também de esclarecimento para saberem como reagir e estarem preparadas para lidar com eventuais confrontos. "Há uma atitude de decisão deliberada das pessoas de fazerem parte do protesto, de dar toda a informação e de saber quais podem ser as consequências legais da sua participação", explica Catarina Viegas.
Os protestos podem não ficar apenas por Sines: "Temos de mudar o paradigma e, para isso, há várias formas de contribuir. As pessoas podem amplificar as nossas mensagens nas redes sociais, falar com decisores políticos locais e nacionais e trazer pequenas ações para a rua", exemplifica Hugo.
Já não é a primeira vez que o movimento por justiça climática realiza ações de protesto nas infraestruturas de empresas do setor energético em Portugal. Em novembro de 2021, um grupo de ativistas tentou bloquear os acessos à refinaria da Galp em Sines, num protesto organizado pelo Climáximo. Durante a ação, dez ativistas conseguiram entrar nas instalações. Voltaram a protestar junto à unidade industrial em julho do ano passado.
Em novembro, durante a primeira onda de ocupações nas instituições de ensino, cinco ativistas foram detidas após colarem as mãos e bloquearem a entrada do Ministério da Economia, em Lisboa. O episódio deu-se após reunirem com António Costa e Silva. Já nos últimos meses, os ativistas do "Parar o Gás" pintaram as fachadas das empresas Galp e a Energias de Portugal (EDP), e concentraram-se à frente das sedes da REN e a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), em Lisboa, como forma de protesto.