Íamos partir de madrugada para o Faial. A noite, de temperatura amena, preparava-nos o mar para o dia seguinte, com uma brisa forte que parecia anunciar uma travessia com vaga formada. O anúncio da partida foi conseguido com um som grave do Creoula que nos fez vibrar a alma.
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Saídos do porto, o navio guinou a estibordo numa trajetória elegante e decidida.
Todos olhavam para São Miguel com o sentimento da partida e a esperança da chegada a novo porto.
Depressa o mar nos embalou num carrossel fraterno mas determinado mostrando-nos a nossa verdadeira dimensão e fragilidade, num mar sem limites mas com horizontes bem definidos.
Interrogo-me o que irá na alma de cada um. Olho para cada um dos rostos, procurando em cada gesto ou expressão decifrar o enigma. Serão certamente todos diferentes mas partilham por certo as mesmas incertezas.
A estibordo um grupo de golfinhos encoraja-nos a prosseguir, mostrando-nos de forma cordial o rumo a seguir. Parece que dizem: é para o Faial... é para o Faial... vão no caminho.
Como anunciado, o mar e o vento querem mostrar alguma supremacia. Vaga e vento pela proa, numa atitude condescendente que nos permite avançar timidamente, ditam o progresso do navio e fazem prever uma chegada ao destino para além do desejado.
Resignados, os tripulantes multiplicam-se em conversas dispersas, com rostos alegres e a espelhar o futuro.
O dia passa. Chega o pôr do Sol. O mar acalma e o vento começa a colaborar.
Olho de novo para as expressões destes jovens. Admiro-os pelo gosto pela aventura. Por aquilo que deixaram para participar na UIM. Pelo espírito aberto. Pela coragem de enfrentar o desconhecido. Pela vontade de experimentar, de fazer algo diferente. Admiro-os muito e tenho orgulho de participar e partilhar esta experiência.
São eles que vão construir o futuro. Um futuro com uma herança pesada deixada pela geração anterior. Mas um futuro certamente diferente do presente, oxalá melhor, que esta aventura ajudará a construir.