Quando todas as atenções estavam voltadas para uma manobra de diversão num bairro periférico de Luanda e para o assalto ao navio Santa Maria no mar das Caraíbas, três grupos armados tentavam, pelo calar da madrugada, tomar conta de um quartel e duas cadeias da capital de Angola, sem que, na altura, se percebesse que algo maior estava a acontecer: o início de um conflito que se prolongou por 13 anos e ficou conhecido como "guerra colonial".
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A notícia sobre o assalto em Luanda, que ocorreu a 4 de fevereiro de 1961, constou, contudo, da primeira página do JN do dia seguinte, tendo por base um comunicado, onde se garantia que o incidente visava a libertação de presos. Tudo começou com o que foi considerado como tendo sido uma "manobra de diversão", num "bairro periférico da Casabranca": "um forte grupo atacou à pedrada os residentes daquela zona, estilhaçando vidraças". Os assaltos ocorreram meia hora depois, tendo como alvos a Casa de Reclusão Militar, o Quartel da Companhia Móvel da PSP e as Cadeias Civis de Luanda.
"Os elementos até agora conhecidos sobre os assaltos, esta madrugada registados, levam a concluir que se tratou de uma operação estudada, com grande antecedência, e a que não faltou até uma ação de diversão, lançada meia hora antes", refere-se na notícia do JN, onde se fala na existência de "várias baixas" e garante-se que quase todos os responsáveis foram imediatamente detidos.
"Os assaltantes eram portadores de quatro pistolas metralhadoras, pelo menos. Os assaltos foram pronta e vigorosamente repelidos, confirmando-se que há baixas de parte a parte, sendo sete o número de mortos entre as forças defensoras da ordem", especifica-se.
Apesar de, na noticia, se assegurar que a "calma" era "absoluta" na cidade de Luanda, incidentes voltaram a ocorrer durante as cerimónias fúnebres das vítimas, com um tiroteio que resultou em dez mortos. "Os incidentes em Luanda estão a provocar reações de indignação e repulsa pelos atos criminosos", notícia ainda o JN, com o governador-geral de Angola, Silva Tavares, a assegurar, por isso, à população, "que será mantida a paz e a ordem".
A paz e a ordem não regressou, porém. E, entre 1961 e 1974, sucederam-se confrontos entre as Forças Armadas Portuguesas e as forças organizadas pelos movimentos de libertação ou independência formados nas províncias do então Ultramar Português, em particular Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau e Moçambique.