O cenário têm-se repetido todos os dias, há cerca de um mês, na Escola Básica da Junqueira, em Gaia: devido à greve dos professores, os alunos do pré-escolar e do primeiro ciclo não têm aulas a tempo inteiro. Preocupados com a repercussão da paralisação na aprendizagem e na socialização dos filhos, os encarregados de educação concentraram-se, na manhã desta quinta-feira, à porta da escola. Pedem soluções e "boa vontade" nas negociações entre sindicatos e Governo. Admitem ainda avançar com uma petição online para exigir serviços mínimos. A associação de pais fez também uma exposição ao Ministério Público para perceber como serão recuperados os conteúdos perdidos.
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"Esta escola tem sido bastante afetada pela greve. A paralisação tem sido feita de forma parcial, ao primeiro tempo. Os pais não conseguem andar num vai e vem constante. Acima de tudo, os miúdos também não podem andar nesta instabilidade. Os miúdos sofrem e estão a perder currículo", referiu Nuno Oliveira, presidente da mesa da assembleia geral da associação de pais da Escola Básica da Junqueira, frisando que, em Portugal, existe "um sistema público e privado" de ensino e que "as crianças do sistema público estão a ser prejudicadas".
Maria Fernandes, mãe de duas crianças a estudar na escola, aponta duas principais preocupações geradas pela greve dos docentes: o impacto na educação dos filhos e na socialização. "As crianças não têm aulas em horário integral desde o dia 9 de dezembro. Vão tendo aulas quando os professores e os funcionários chegam. Preocupa-nos as aprendizagens. Na Educação, não temos ferramentas [para ensinar]. A maneira como aprendemos não é a mesma que eles aprendem hoje em dia", lamentou Maria Fernandes, considerando "imperativo" ponderar a criação de "um plano de reestruturação de matérias".
Jorge Soares, pai de um menino do primeiro ano, partilha da preocupação: "Os pais têm de vir à escola às 9 horas para, em 99% das vezes, irem embora [sem haver aulas]. Depois, por volta das 11 horas, recebemos uma chamada da escola a dizer que a professora chegou e podemos levar as crianças. As crianças estão sem direito a aprender. Preocupa-me as perdas de aprendizagens", criticou o encarregado de educação.
No que toca à socialização, Maria Fernandes é perentória: "Estamos a falar de crianças que passaram pela pandemia e tinham medo de tudo. Estou a falar do caso do meu filho, que está com problemas de socialização. Como é que vamos resolver isso? Alguém nos vai ajudar?".
Para pôr término à greve, Maria Fernandes acredita ser necessário "boa vontade de todas as partes". "Com o diálogo e com as cedências", notou.
De acordo com Nuno Oliveira, a Federação das Associações de Pais de Gaia esteve reunida e decidiu avançar com uma petição online para pedir que sejam decretados os serviços mínimos. Ainda não há data para o lançamento da petição. O representante da associação de pais da Escola Básica da Junqueira revelou ainda que foram "reportadas algumas situações" de pais "em risco de perder o emprego" devido à greve.
"Têm faltas injustificadas e a entidade patronal não entende o porquê de tanta greve na escola da Junqueira. Outros estão contratados a termo certo e têm receio que o vínculo não seja renovado", revelou.
Ainda assim, os pais garantem compreender as reivindicações de professores e funcionários. "Os professores têm todo o direito em se manifestar e em exigir que sejam revistas as suas condições. O que nos preocupa é que a comunidade escolar, neste momento, não está a ser olhada como um todo. Tivemos uma pandemia, o ano passado foi de normalidade e, este ano, parece que estamos a regressar à anormalidade com esta greve. Não quero que o meu filho e a minha filha pensem que a anormalidade é a nova normalidade", disse Nuno Oliveira.