Débora, Maria João e Andreia não se conhecem. Têm em comum a prática da parentalidade consciente na maternidade e nas suas relações familiares e profissionais.
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Débora Sá tem 37 anos, é antiga apresentadora de televisão e jornalista e mãe do André, de quatro anos, e da Helena, de quatro meses. Durante a entrevista para o JN, o André, uma ou outra vez, faz jus à idade e interrompe a mãe e não obedece aos pedidos de Débora. Contudo, depois de alguns "por favor" e de explicações claras sobre o que se está a passar, a criança acena positivamente à solicitação materna. Isto, segundo esta mãe, é bom exemplo da parentalidade consciente.
Nas palavras de Débora, resume-se facilmente: "é respeitar as crianças e incluí-las no processo". A mãe explica que a ideia da parentalidade consciente ou positiva é quebrar com a tradição de educar pela palmada, berro ou castigo. "Ao cortar com os paradigmas com os quais muitos de nós fomos educados quando éramos miúdos, isso fará de mim uma mãe melhor, fará de mim uma cidadã melhor".
Débora conduziu um programa de televisão, onde, semanalmente, recebia Mikaela Ovén, mais conhecida por Mia. A sueca de 47 anos, que vive há mais de 20 em Portugal, é autora de cinco livros, coach e mãe de três filhos. Com mais de 60 mil seguidores no Instagram, Mia inaugurou a Academia da Parentalidade Consciente, na qual dá formação não só a pais, mas também a profissionais na área da educação e da medicina.
O objetivo é criar harmonia entre pais e filhos, entre relações, porque "estamos", segundo Mia, "a educar crianças para serem melhores adultos".
Andreia Abreu, de 40 anos, descobriu na palavra uma forma de vida. É escritora de contos infanto-juvenis. O seu último livro, "Contos a três" nasceu da experiência com os filhos de oito e de seis anos. Também esta mãe foi beber ao modo de vida de Mia.
"Estamos numa altura em que muito se fala de parentalidade e, sobretudo de parentalidade consciente. Este livro foi a forma que encontrei para praticar, à minha maneira, essa parentalidade consciente. Algumas pessoas fazem bolos com os filhos, outras vão para a natureza. Como eu não tenho jeito para isso e gosto de escrever, sentava-me na cama com os meus filhos e contava histórias, ou lia histórias, ao final do dia. Até que houve uma altura em que, cansada de ler histórias, decidi que iríamos fazer diferente: vamos contar as nossas histórias, vamos inventar".
Aplicar na medicina
Maria João Xará, de 34 anos, é médica de família e fez formação com a Mia em parentalidade consciente, após ter engravidado da primeira filha em 2016.
"Percebi que havia coisas que não estavam resolvidas, nomeadamente a minha autoestima. Toda a insegurança que sentia no desempenho do papel de mãe", partilha. A certificação de Mia permitiu a Maria João "levar aqueles conhecimentos a outras pessoas e colocá-los em prática nas consultas" de medicina. A médica conta um episódio que se passou em consulta, "em que uma mãe quase bateu no filho", porque a criança estava a bater, com muita violência na secretária com o comboio de brincar.
"Basicamente, peguei no comboio e disse-lhe: "Vamos fazer uma pista. Se fizermos assim, ele não se estraga, não é?"", disse.
Perante esta estratégia, Maria João conta que a criança mudou, de imediato, o comportamento. "Senti a resistência do lado da mãe, porque a vontade dela era ter acabado com a situação". E remata: "Difícil é lidar com os adultos".
Esta médica de família desabafa que a maior dificuldade passa por praticar parentalidade consciente com os adultos: "Às vezes, para mim, ainda é desafiante".
Pormenores
O que é
A parentalidade consciente visa criar boas relações. Mia lembra a terapeuta Esther Perel para explicar que a qualidade da nossa vida depende da qualidade das nossas relações. A relação com o nosso filho e o seu bem-estar dependem disso.
Benefícios
A ideia é diminuir o sofrimento da criança e responder, de forma adequada, às suas necessidades. Uma educação mais positiva e menos autoritária gera menos ansiedade e stress entre pais e filhos.