A procura por informação no site dos Alcoólicos Anónimos (AA) bateu um recorde em maio: mais de 9200 visitas. A média, em 2018 e 2019, era de 5000 visitas mensais.
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A subida também se sentiu no número de chamadas para a linha de apoio 217162969. Mas o secretário-geral dos AA, António, ainda não atribui uma causa-efeito entre a procura de ajuda e o confinamento.
Mesmo com a suspensão das reuniões presenciais, os AA receberam vários novos membros. Segundo António, inicialmente estavam previstas quatro reuniões online semanais e, "no espaço de duas semanas, o número subiu para 60 semanais". "Os novos membros não só chegaram, como se mantiveram e conseguiram manter-se sem beber. As reuniões online possibilitaram a um conjunto de pessoas, que está no interior do país, o acesso às reuniões".
Paralelamente, a linha de apoio dos AA, que praticamente não recebeu pedidos nas primeiras semanas de confinamento, está a receber cinco a seis chamadas por dia e com tendência para subir. E os acessos ao site "cresceram exponencialmente após o confinamento". Em maio, foram quase mais 4000 visitas em relação a fevereiro por pessoas que permaneceram durante algum tempo. O número de utilizadores a aceder ao site praticamente duplicou, de 3217, em abril do ano passado, para 6273, no mesmo mês de 2020.
Ansiedade fomentou consumo
Apesar de alguns estudos indicarem que o consumo de álcool aumentou na pandemia, o secretário-geral dos AA ainda não atribui uma causa-efeito entre o confinamento e o aumento da procura por informação. "Um alcoólico fechado em casa com a família e em situação de stress poderá ter perdido o controlo, mas ainda não temos dados suficientes".
Um estudo da Associação Europeia de Economistas do Vinho e da Universidade de Bordéus concluiu que a frequência do consumo de vinho, no confinamento, "aumentou acentuadamente" em Portugal (e em França, Espanha e Itália), ao mesmo tempo que baixou o consumo de cervejas e bebidas espirituosas. Portugal participou através de João Rebelo, investigador da UTAD. Foram, principalmente, pessoas entre os 30 e os 50 anos que aumentaram o consumo. Concluiu-se que "a ansiedade gerada pela pandemia foi fator impulsionador do consumo de bebidas alcoólicas", bem como o receio das consequências económicas.
O SICAD está a participar, agora, num inquérito europeu sobre o consumo de álcool na pandemia, organizado pela Universidade Técnica de Dresden, na Alemanha, e o Hospital Clínic de Barcelona, em Espanha. Mais de 600 portugueses já responderam.
Números
600 membros ativos
Estimam-se em 600 as pessoas que assistem regularmente às reuniões dos AA pelo país. Há cerca de 90 grupos e já cinco retomaram as reuniões presenciais, com máscaras e distanciamento.
10% de aumento das vendas de álcool
O último barómetro da Nielsen às compras dos portugueses revelou que a compra de bebidas alcoólicas subiu 10% durante o confinamento e que a de cervejas/sidras/panachés aumentou 15%.