Ceviche de choupa, paté de carapau fumado, lira desidratada, pastéis de serrão e mini-saia frito. São produtos alimentares criados com base em espécies de peixe rejeitadas ou de baixo valor comercial pela equipa do VALOREJET, um projeto desenvolvido em parceria com o Politécnico de Leiria.
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Em comunicado de imprensa, o projeto VALOREJET explica que pretendeu avaliar o potencial de três espécies de peixe com baixo valor comercial (carapau-negrão, choupa e ruivos) e duas espécies de peixe rejeitadas (mini-saia e serrão-alecrim) que são pescados na costa portuguesa, cujo conhecimento biológico era baixo ou inexistente.
"Este projeto é um exemplo da importância da investigação na valorização dos recursos alimentares marinhos para uma utilização eficiente e sustentável, nomeadamente pela utilização de espécies sem valor comercial, no desenvolvimento de produtos alimentares com valor acrescentado", considera Maria Manuel Gil, coordenadora do MARE - Politécnico de Leiria e investigadora responsável pelo projeto no Politécnico de Leiria.
Além de acrescentar valor às espécies, a equipa explica que isto permitiu estender a vida de preparados de peixe fresco. "Em termos nutricionais e sensoriais, obtivemos resultados muito promissores, considerando que o pescado com baixo valor, ou mesmo sem valor comercial, demonstrou-se nutricionalmente rico e livre em metais pesados", explica Filipa Pinto, uma das investigadoras do Politécnico de Leiria envolvidas no projeto.
Os resultados do VALOREJET demonstraram ainda que, entre as espécies de baixo valor comercial, o carapau-negrão é o que apresenta a melhor perspetiva de aproveitamento potencial como recurso futuro. "Apresenta uma elevada abundância (cerca de 3500 toneladas/ano), uma elevada fecundidade e uma taxa de crescimento moderada, fatores muito favoráveis a uma capacidade de resiliência da população", afirma o comunicado.
Aproveitar o que muitos deitam fora
Em comunicado, a equipa responsável pelo projeto afirma que "as rejeições diminuíram cerca de 30% nos últimos 40 anos, no entanto, representam ainda 27 milhões de toneladas. Economicamente, traduzem perda de valor para a administração e pescadores e, em termos nutricionais, é uma importante fração de proteína que é desperdiçada."
Estas rejeições são causadas muitas vezes pelas várias artes de pesca apresentarem graus de seletividade diferentes, ao que resulta em capturas muitas mais espécies do que aquelas que são alvo de pesca, resultando ao desperdício elevado de outras espécies.
É por isso que, entre os diferentes objetivos do VALOREJET, o desenvolvimento de produtos com base nestas espécies rejeitadas ou de fraco valor comercial não só cria valor acrescentado e pode aumentar a oferta de produtos alimentares no mercado, mas também permite a ligação entre a comunidade científica e os agentes do setor.
O projeto foi financiado pela Direção Geral de Recursos Naturais, Segurança e Serviços Marítimos (DGRM) no âmbito do Programa Operacional MAR 2020. Também conta com a promoção da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL) e o polo de Lisboa do MARE - Centro de Ciências do Mar e do Ambiente. Envolve igualmente as empresas transformadoras Nigel e Omnifish e o apoio da Cooperativa de Pesca Geral do Centro (Opcentro).