
A Ministra da Saúde, Marta Temido, durante a visita às instalações do Centro Ismaili no âmbito do Dia Nacional do Dador de Sangue
RODRIGO ANTUNES/LUSA
Entre 2011 e 2020, dádivas e dadores caíram 30%. O IPST quer reforçar estratégia para fidelizar população em idade ativa e atrair mais jovens.
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Numa década, o número de pessoas a doar sangue em Portugal diminuiu 30%, com menos 82 588 dadores entre 2011 e 2020. O Instituto Português do Sangue e da Transplantação (IPST) informa que as reservas estão estáveis, mas admite que o grande desafio é fidelizar a população entre os 25 e os 44 anos, que constitui a faixa etária que mais abandona a dádiva.
Apesar de o contexto pandémico justificar parte do decréscimo, os dados do último "Relatório de Atividade Transfusional e Sistema Português de Hemovigilância" mostram que a queda de dadores e de dádivas tem sido progressiva ao longo dos anos. A inverter a tendência está o número de pessoas que doam pela primeira vez, que cresceu 7,6% de 2019 para 2020, o que prova que os apelos para a dádiva são bem acolhidos. "O problema é manter a população em idade ativa, normalmente mais comprometida a nível familiar e profissional. O grupo dos 25 aos 44 anos é o mais difícil de fixar", aponta a presidente do IPST.
Jovens como prioridade
Maria Antónia Escoval considera que é preciso captar mais jovens para garantir a fidelização. No Hospital de São João, o hospital que recolhe mais sangue no país, a faixa etária entre os 18 e os 24 anos foi a única que cresceu entre 2019 e 2021. "Os jovens estão mobilizados, mas são sempre o nosso grande objetivo porque são eles que nos vão permitir, durante cerca de 40 anos, manter as reservas existentes".
Para cimentar esta estratégia, o IPST vai hoje homenagear os oito jovens dos 18 aos 20 anos que atingiram o limite de dádivas entre 2020 e 2021 (os homens podem doar quatro vezes por ano e as mulheres três). Estudante do 3.º ano de Medicina da Universidade do Porto (UP), Miguel Carvalho começou a doar sangue no mês após atingir a maioridade. "Vi nas notícias que as reservas estavam em baixo e pensei: porque não? Não custa nada e no final até nos sentimos bem". O jovem de 21 anos, natural de Vila Real, conseguiu convencer alguns colegas da faculdade, mas alerta para a necessidade de se intensificarem as campanhas de sensibilização, sobretudo através dos meios digitais.
A ambição de Miguel Carvalho é seguir o exemplo de Manuel Jorge Santos, homenageado no ano passado pelo IPST. Aos 61 anos, o subchefe dos Bombeiros Voluntários de Odivelas é dador há mais de 40 e conta com 116 dádivas no currículo. Há 20 anos que organiza recolhas no quartel e até fica aborrecido quando não consegue doar. "Todos temos família e não sabemos o dia de amanhã. Vou continuar até poder".
Necessidades diminuíram
Embora as doações tenham caído, as necessidades de sangue também baixaram na última década. Uma das razões apontadas pela presidente do IPST é a implementação da especialidade de imuno-hemoterapia em todos os hospitais do SNS. De acordo com o relatório, houve menos 40 113 unidades de glóbulos vermelhos transfundidas entre 2015 e 2020, o que representa -12,8%.
No entanto, as dádivas são sempre necessárias porque os diferentes componentes do sangue têm prazos de validade. As plaquetas, por exemplo, só duram cinco a sete dias. "É essencial que as pessoas dadoras realizem as suas dádivas de forma regular e faseada ao longo do ano".
Instituições
Em 2020, os três centros do IPST localizados no Porto, Coimbra e Lisboa realizaram 166 102 dádivas, quase 60% do total. O Hospital de São João, no Porto, é a instituição que se segue na lista. Em 2021, colheu 18 402 dádivas de 11 233 dadores.
Cerimónia
O IPST assinala o Dia Nacional do Dador de Sangue com uma cerimónia no centro de Lisboa, no Hospital Pulido Valente, que vai homenagear oito jovens dos 18 aos 20 anos que mais deram sangue entre 2020 e 2021. Ontem, a ministra da Saúde, Marta Temido, deu o exemplo e foi doar sangue.

