As portuguesas gastaram quase 232 mil euros, por mês, em medicamentos para tratar a menopausa, em 2018. Um valor que se mantém estável nos últimos anos e que revela a necessidade de as mulheres recorrerem a fármacos para minorar os sintomas.
Corpo do artigo
No mesmo ano, foram vendidas 264 mil unidades do medicamento que junta estrogénio e progestativo. Os dados, avançados ao JN pela consultora IQVIA, têm por base as vendas efetuadas em farmácias e demonstram que as mulheres portuguesas continuam a recorrer ao tratamento hormonal para reduzir sintomas "como insónias, suores noturnos e dores de cabeça".
Em geral, os ginecologistas portugueses desvalorizam o estudo publicado na revista científica "The Lancet" que estabelece uma causa direta entre a terapia de substituição e o cancro da mama. Segundo o estudo realizado nos Estados Unidos, quanto mais tempo as mulheres realizarem o tratamento hormonal, maior é o risco de lhes ser diagnosticado cancro, sendo que o risco começa um ano após a toma da medicação e prolonga-se pelos dez anos seguintes.
5% faltam ao trabalho
"O estudo não está feito com muito rigor e junta dados que não podem ser misturados", referiu Fernanda Geraldes, presidente da secção da Menopausa da Sociedade Portuguesa de Ginecologia.
"Sabemos que entre 5% e 6% das mulheres portugueses têm problemas de absentismo laboral por causa dos sintomas da menopausa e sabemos que as mulheres, a grande maioria delas com empregos e uma vida social estável, querem ter qualidade de vida e essa qualidade, na maior parte dos casos, só é possível com a terapia hormonal", salientou ainda a médica.
Do estudo americano, Fernanda Geraldes tira outras conclusões: "A obesidade, o consumo excessivo de bebidas alcoólicas e o sedentarismo são fatores que podem causar o cancro da mama". Um estudo realizado em maio de 2018, em Portugal continental e ilhas, a 892 mulheres, entre os 45 e os 60 anos, concluiu que 28% das mulheres já fizeram um tratamento hormonal.
Osteoporose mata mais
"A terapia tem de ser individualizada a cada mulher e não pode ser para toda a vida. É um medicamento que só deve ser usado enquanto existirem sintomas. Quando os sintomas terminarem, acaba também a toma da medicação", frisou Ana Rosa Costa, assistente graduada de Ginecologia e Obstetrícia no Hospital de S. João, no Porto. E continua: "A osteoporose mata mais que o cancro da mama e a terapia hormonal é muito eficaz na prevenção da doença".Às consultas de ginecologia chegam dois tipos de mulheres na menopausa: "As que querem ter qualidade de vida, que querem fazer a terapia hormonal e que não querem ter os sintomas da menopausa e chegam as que, por medo ou falta de informação, não querem fazer a terapia porque associam o tratamento ao cancro. Mas cada tratamento é individual e não é para toda a vida", finalizou Fernanda Geraldes.
Conclusões do estudo publicado na "The Lancet"
10 anos - O risco de cancro da mama é o dobro do que se pensava porque se mantém até dez ou mais anos após a toma da terapia hormonal.
Uma em 50 - Uma em cada 50 mulheres que tomam estrogénio e progestogénio todos os dias, durante cinco anos, terá cancro da mama.
Risco aumenta - Quanto mais tempo as mulheres recorrerem ao tratamento, maior é o risco de lhes diagnosticado cancro, sendo esse risco inexistente apenas no primeiro ano de tratamento.
Após um ano - A partir do primeiro ano, mesmo que a terapia seja interrompida, o risco mantém-se, contrariamente ao que se acreditava.