Desde 2015, a "STOP Vespa" registou quase 71 mil ninhos, dos quais cerca de 66 mil já foram exterminados. ICNF e especialista admitem haver autarquias que não estão a registar dados.
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Dos 278 municípios de Portugal continental, só 73 não reportaram, até ao momento, a presença de vespa velutina (vulgo, asiática) nos seus territórios, de acordo com registos efetuados na plataforma STOP Vespa, gerida pelo Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (ICNF). Entre 2015 e 12 de julho deste ano foram contabilizados 70961 ninhos, mas tanto o organismo público como especialistas admitem que os casos podem ser mais, uma vez que os dados dependem da colaboração das autarquias.
"Se há concelhos que não têm registos de ninhos, mas estão rodeados por concelhos com ninhos, não é expectável que não tenham. O que acontece é que registar ninhos na plataforma consome muito tempo a quem trabalha na Proteção Civil e alguns Municípios não transferem da sua base interna para a plataforma oficial. Não encontrar ninhos no Alentejo é expectável, mas se não encontro no Cartaxo é muito pouco provável", explica José Aranha, docente da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) e membro do projeto GOVespa, que apoia diversas entidades e apicultores na identificação de ninhos ou monitorização do movimento do animal.
Segundo o ICNF, o concelho de Cartaxo é, precisamente, um dos 73 que não registou a presença da vespa velutina, mais conhecida como vespa asiática. Mas há, também, o exemplo de Municípios como Idanha-a-Nova, Sabugal ou Almeida que não entram nas contas, apesar de estarem ao lado de territórios onde a espécie já foi identificada. "Infelizmente, na região Norte, já existem ninhos em todos os concelhos. Se dentro de um conjunto de concelhos aparecer um que não tem, é porque não o registou na plataforma", atesta José Aranha, sublinhando que a praga predadora de abelhas já chegou à margem sul do Tejo.
Beja e Faro são exceção
2572 ninhos foram registados e validados na Plataforma STOP Vespa, só entre janeiro e 12 de julho deste ano. Destes, 2367 já foram destruídos, ou seja, 93% das ocorrências.
Évora contou os primeiros três casos no último ano, sendo os distritos de Beja e Faro os únicos que se mantêm livres da vespa asiática, o que não surpreende o investigador. "É expectável, porque o território não tem uma continuidade espacial de árvores e muita atividade humana", justifica, admitindo que, nos concelhos alentejanos, a espécie terá chegado de forma acidental. "Da mesma maneira que entrou acidentalmente em França e, depois, em Portugal, ela acidentalmente está a ser levada para outras zonas do país. Dar um salto de 30 ou 50 quilómetros é impensável", refere.
Dos 70.961 ninhos observados nos últimos sete anos, 66.028 já foram destruídos. De acordo com os registos na plataforma STOP Vespa - que foi lançada em 2015, mas agregou dados de 2014 do SOS Vespa -, os distritos que apresentam mais ocorrências são Porto (18.587), Aveiro (14147), Braga (9846), Coimbra (7682) e Viseu (6887).
Este ano, várias corporações contactadas pelo JN anteveem mais um verão difícil de combate à vespa asiática. Em Famalicão, Manuel Pinheiro, da Proteção Civil, diz que as chamadas não param de cair, com dias a registarem entre 20 a 30 casos. Desde o início do ano já contam quase 400 ninhos, a maioria "junto a cornijas de habitações, alpendres ou anexos". "Parece que estão a fazer ninhos em zonas mais baixas", afirma Manuel Pinheiro.