Professor que desenhou cartaz de Costa: "Não tem absolutamente nada de racista"
Pedro Brito rejeita a interpretação feita por António Costa de que o cartaz que desenhou do primeiro-ministro com nariz de porco tenha um teor "racista". O professor, atualmente a dar aulas em Évora e que esteve presente na manifestação em Peso da Régua, admite, contudo, que se trata de "uma sátira forte", usada como "arma de contestação" na luta dos docentes.
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"Não tem absolutamente nada de racista", diz o professor e também ilustrador que é autor do cartaz polémico de António Costa, bem como de outros da mesma natureza. No desenho, usado no sábado na manifestação dos professores, à margem da cerimónia do 10 de Junho, o primeiro-ministro aparece com nariz de porco, lábios salientes e dois lápis espetados nos olhos. "Pareceu-me um homem desesperado e que não sabe muito bem o que está a dizer", diz Pedro Brito, referindo-se ao facto de o primeiro-ministro ter classificado o cartaz de "racista". O docente leciona atualmente numa escola em Évora, a mais de 300 quilómetros do seu domicílio, explicou ao JN.
O professor, que se identifica como desenhador, caricaturista e artista plástico, é ainda responsável pelo desenho de João Costa, onde o ministro da Educação aparece retratado com um lápis espetado num olho. Tanto a ilustração de António Costa como a de João Costa têm sido usadas em vários protestos de professores há vários meses. Um dos desenhos do primeiro-ministro foi inclusive utilizado por um grupo de professores em Braga, no início de maio, aquando da realização do Conselho de Ministros naquela cidade. Em fevereiro também já eram usados numa manifestação organizada pelo S.TO.P, em fevereiro, e noutra no dia 25 de Abril.
Na página profissional de João Brito surgem várias figuras nacionais retratadas em ilustração como João Cotrim Figueiredo (ex-líder da Iniciativa Liberal), Marcelo Rebelo de Sousa (presidente da República), Augusto Santos Silva (presidente da Assembleia da República) e Henrique Gouveia e Melo (chefe do Estado-Maior da Armada). Alguns, tal como António Costa, são retratados com feições de animais.
Sobre o desenho de António Costa, a quem acusa de estar a "destruir a escola do futuro", Pedro Brito diz não ter "absolutamente nada a dizer" sobre os "lábios salientes". Quanto ao nariz de porco, o docente remete para a ilustração infantojuvenil à qual se tem dedicado nos últimos anos. "O nariz é para que daqui a uns aninhos, possa com os meus alunos ver o nariz fofinho de um primeiro-ministro desastroso que não pensa na escola pública", afirmou ao JN.
"Isto não é palavra do sindicato"
Depois da cerimónia do 10 de Junho, no sábado, enquanto mantinha um diálogo aceso com uma manifestante, António Costa tentou acalmar a mulher, Fernanda Tadeu, que se mostrou visivelmente incomodada com o decurso do protesto dos professores.
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No caminho para o restaurante, onde iria almoçar no Peso da Régua, vê-se, num vídeo publicado nas redes sociais, o primeiro-ministro irritado com um dos elementos da manifestação. Pedro Brito diz agora ao JN que foi a ele a quem o chefe de Governo se dirigiu: "Você com um cartaz racista devia era estar calado". Ouve-se a seguir: "É mentira".
O professor adianta que distribuiu os cartazes aos docentes que os quiseram empunhar, tal como tem feito noutras manifestações. Apesar de ser sindicalizado no Sindicato dos Professores da Zona Sul (SPZS), afeto à Fenprof, reconhece que a ação de levantar a ilustração foi um ato individual. " Isto não é a palavra do sindicato. Esta é a minha palavra e daqueles que querem erguer a mesma mensagem", refere.
Pedro Brito acredita que a maioria dos professores que também usaram o desenho eram afetos a sindicatos da Fenprof. A organização sindical demarcou-se, em comunicado, dos insultos e dos cartazes dirigidos ao primeiro-ministro. Até ao momento, não foi possível falar com o secretário-geral da Fenprof, Mário Nogueira. O ilustrador afirma que já teve ligações ao Sindicato dos Professores do Norte (SPN), também afeto à Fenprof, e ao S.TO.P.
Sem remuneração pelos desenhos
"Não sou remunerado", disse ao JN, garantindo que nenhuma estrutura sindical lhe encomendou as ilustrações. O docente revela ter sido contactado por um grupo de Famalicão a pedir autorização para usarem os desenhos. Mas não foi pago, cedeu-os livremente. Pedro Brito confessa que já perdeu o rasto às ilustrações, sendo agora usadas por professores um pouco por todo o país, em várias manifestações nacionais.
Apesar de não estar "incomodado" com a demarcação da Fenprof acerca dos cartazes, Pedro Brito garante que, no passado, em 2013 e 2014, o sindicato a que pertencia esteve do seu lado quando usou um desenho como "protesto" relativamente a uma escola privada. Caso a polémica "tome uma dimensão maior", que coloque em causa o seu bom-nome, o docente admite "agir". No entanto, não adianta quais seriam as ações.