A Fenprof e a FNE demarcam-se e falam em insulto e vergonha. O S.TO.P. acusa Costa de querer desviar atenções. O autor rejeita teor "racista" do desenho.
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As organizações sindicais de professores demarcaram-se, este domingo, do uso do cartaz polémico de António Costa nos protestos realizados em Peso da Régua, onde o primeiro-ministro aparece retratado com nariz de porco e dois lápis espetados nos olhos.
A Federação Nacional dos Professores (Fenprof) e a Federação Nacional de Educação (FNE) estão preocupadas com a "imagem social" dos docentes, depois de Costa ter declarado que o desenho era "racista". O autor da obra rejeita a acusação e diz que se trata de uma "sátira forte".
A primeira organização a demarcar-se do cartaz empunhado por alguns professores foi a Fenprof, que tinha convocado um protesto para o local das cerimónias do 10 de Junho, no sábado, em Peso da Régua. Em comunicado, enviado este domingo, argumenta que "não se podem usar como armas o insulto e populismo" e apontam que as "imagens exibidas" não dignificam a luta dos professores.
As mesmas imagens de Costa e uma outra do ministro da Educação - com um lápis espetado no olho - têm sido usadas em vários protestos de professores pelo país, nos últimos meses.
Pedro Brito, professor e autor da ilustração polémica, afirma ao JN que o desenho "não tem absolutamente nada de racista". Trata-se de uma "sátira forte", que foi usada como "arma de contestação". O docente sindicalizado no Sindicato dos Professores da Zona Sul (SPZS), afeto à Fenprof, reconhece que a ação foi individual e revela que não ficou "incomodado" com a demarcação da Fenprof face à imagem.
O JN tentou contactar o secretário-geral da Fenprof, Mário Nogueira, mas tal não foi possível em tempo útil.
Pedro Barreiros, secretário-geral da FNE, admite que a estrutura sindical não participou no protesto na Régua, por temer que "situações destas pudessem ocorrer". O responsável diz que tem havido "movimentações desconhecidas" em vários protestos dos professores, nos últimos meses, com as quais não se identifica.
Animalizar a pessoa
"Lamentamos que haja um conjunto de indivíduos, que não sabemos quem são e o que os move, que dificultam a ação sindical", diz Pedro Barreiros, que se confessa "envergonhado" com o que viu nas televisões. "Fico preocupado com a imagem social que se passa para a sociedade sobre os professores", aponta.
O Sindicato de Todos os Profissionais da Educação (S.TO.P.) também garantiu, em comunicado, que não esteve envolvido no protesto, mas acusa António Costa de querer "desviar as atenções". A organização liderada por André Pestana rejeita, por isso, a acusação "de incitação a atitudes de teor racista".
Do ponto de vista da semiótica, pelos elementos que são usados, o simbolismo remete para questões racistas
O secretário-geral da FNE afirma que António Costa passou de "réu a vítima". Só o próprio, diz, pode afirmar se se sentiu ofendido. "Se a imagem lhe provocou essa reação, isso [o cartaz] merece a nossa total repulsa".
Habituada a ver e a analisar obras de arte, incluindo de sátira, a diretora da Bienal de Cerveira, Helena Mendes Pereira, concorda que o cartaz é "ofensivo". "Do ponto de vista da semiótica, pelos elementos que são usados, o simbolismo remete para questões racistas", explica, sobretudo por "animalizar" a pessoa em causa.
Detalhes
Usados várias vezes
As imagens do ministro da Educação e do primeiro-ministro com lápis espetados nos olhos têm sido usadas em vários protestos, como numa concentração em Braga (maio) e em manifestações em Lisboa (fevereiro e abril).
Sindicatos
As ilustrações têm aparecido em concentrações organizadas por diferentes sindicatos como o S.TO.P., em Lisboa, e agora a Fenprof, na Régua. O autor garante que são usadas por grupos de professores.
Violência
Helena Mendes Pereira aponta que os lápis nos olhos são uma imagem "violenta".