Centenas de profissionais da educação de várias partes do país manifestaram-se, esta sexta-feira, em frente à Presidência do Conselho de Ministros e caminharam depois até à Assembleia da República, em Lisboa. Pedem a demissão do ministro da Educação porque "quem não quer negociar, não deve governar".
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Guiados por André Pestana, presidente do Sindicato de Tod@s @s Profissionais de Educação (S.TO.P.), dentro de uma carrinha, e de cartazes erguidos, apitos, vuvuzelas e tambores, os profissionais de educação cortaram estradas na capital. Cantavam “está na hora do ministro ir embora” e “estes são os profissionais da educação, unidos para vencer, todos juntos vamos dizer: João Costa demissão“.
Juntaram-se na capital professores de Faro, Coimbra, Portalegre e de vários outros locais do país reclamando, mais uma vez, “o que lhes foi roubado”, explicou ao JN, Livia Vieira, professora do primeiro ciclo há 27 anos no Agrupamento de Escolas de Silves. Confessa pensar que a manifestação “já vem tarde, porque cada vez está pior”.
“Estamos numa situação em que não há professores, daqui a dois ou três anos não sei como será. Tenho dois filhos estudantes, o mais novo está no 9.º ano e não tem 5 professores”, esclarece.
A manifestação encerrou uma semana de greve convocada pelo S.TO.P. e foi a primeira de profissionais das escolas no ano letivo 2023/2024, em que os docentes e não docentes prometem manter a contestação, à semelhança do ano anterior.
As reivindicações também se mantêm e a principal é a recuperação do tempo de serviço que esteve congelado: seis anos, seis meses e 23 dias.
Exigem o mesmo que nas ilhas
Alexandre André, professor de educação especial em Soure, Coimbra, veio à manifestação no dia do seu aniversário porque acha que se “deve pensar e repensar a educação". "Todos os profissionais de educação merecem respeito e valorização, que seja socialmente ou economicamente, o que não é o que acontece”. “A solução do ministro é baixar a habilitação, podemos vir a ter pessoas a darem aulas com o 12.º ano e mais um ano, isto não é valorizar a educação ou os alunos, não é preparar para o futuro do país”.
Acredita que esta manifestação é “uma primeira amostra da luta que vai acontecer este ano. É a primeira vez que a manifestação acontece durante a semana, porque isto implica greve e para vir aqui gastam-se 100 euros ou mais. Não é fácil mas mostra o quão empenhados os profissionais de educação estão”.
“No entanto vale sempre a pena lutar. Para já, se nos derem a recuperação do tempo de serviço e acabarem com as quotas de progressão, só disto já estavam as despesas das manifestações pagas. Não estamos a pedir um aumento de salário base, o que devia haver para todas as profissões, mas estamos a exigir essencialmente o que nos tiraram, sempre em igualdade com os colegas da Madeira e dos Açores.”
Acredita que os profissionais de educação “não vão baixar os braços tão facilmente. Mais dia, menos dia, vão haver manifestações de 100 mil pessoas e greves muito maiores do que as desta semana pelo que a instabilidade nas escolas vai ser muito grande”.
Quanto à questão do impacto nos alunos, esclarece que “não é pelas greves que os alunos estão a perder alguma coisa e viu-se no ano passado. Os professores, mesmo em greve, conseguiram que muitos alunos recuperassem aprendizagem, até para os exames nacionais, muitas vezes em custo de terem tempos a mais para os ajudar”. “Os alunos perdem aprendizagem pela falta de professores nas escolas, pela falta de condições e de funcionários, não por greves ou manifestações”, afirmou.
Cerca das 16 horas, à chegada à Assembleia da República e com o apoio da deputada Joana Mortágua, do Bloco de Esquerda, os profissionais voltaram a juntar-se em frente às escadarias do Parlamento, erguendo os cartazes e faixas que carregaram ao longo do caminho.