A dois dias do início da última grande peregrinação deste ano ao Santuário de Fátima, eram muitos os peregrinos a pé que ontem percorriam os caminhos da fé.
Corpo do artigo
Para a maioria, esta é uma peregrinação adiada desde maio. Para outros, é uma peregrinação antecipada e de alguma forma incompleta espiritualmente, já que não vão arriscar ficar para as celebrações do 12 e 13 de outubro, devido às restrições de um limite máximo de 6000 pessoas no recinto da Cova da Iria, pelo que vão embora ainda hoje. E para outros ainda, como é o caso de um grupo de profissionais de saúde do distrito de Viseu, esta é sobretudo uma caminhada de limpeza emocional e uma jornada de esperança para os desafios que se adivinham num futuro próximo.
"Há pessoas que acham que é uma estupidez o que estamos a fazer. Mas nós também somos pessoas, também temos família. E isto é muito importante para libertarmos o stress, para ganharmos forças para os tempos que aí vêm, que não vão ser fáceis", disse ao JN a enfermeira Paula Parente, 42 anos, guia do grupo de 14 pessoas, que ontem cumpria a última etapa de um total de 150 quilómetros, entre Lajeosa do Dão e Fátima. Na comitiva seguiam mais cinco enfermeiras e uma médica, todas imbuídas do mesmo espírito.
Tal como acontece com este grupo, são muitos os peregrinos a pé que este ano aproveitam o fim de semana para peregrinar à Cova da Iria, mas não se aventuram a ficar para as celebrações oficiais, presididas pelo bispo de Setúbal e presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, D. José Ornelas.
"Gostava de ficar para o 12 e 13, mas não vale a pena arriscar. Vamos assistir a uma missa e depois regressamos a casa", explicou Glória Cardoso, de 71 anos, a alma do grupo de Lajeosa do Dão, pela experiência de 41 anos de peregrinações e a vontade permanente de falar, cantar e rezar. "É uma coisa inexplicável ajoelhar-me aos pés da Nossa Senhora", adiantou a agricultora, revelando não ter medo de um eventual contágio do coronavírus, apesar da tendência de aumento de casos de infetados no país.
teste às normas hoje
Este sentimento de resiliência, de resto, parece ser o motor que continua a arrastar milhares de crentes ao chamado "altar do mundo". Por estes dias, as expressões de fé tornam-se menos visíveis nos rostos tapados pelas máscaras de proteção, mas a devoção permanece inabalável.
Para que a emoção não se sobreponha à prevenção, a missa de hoje, no recinto de oração do santuário, será utilizada como um teste às normas previstas no plano de contingência aprovado pela Direção-Geral da Saúde. A entrada de peregrinos será controlada e os fiéis serão encaminhados para os milhares de círculos pintados no solo, para garantir o distanciamento social.
Voluntários a apoiar
O acolhimento e acompanhamento dos peregrinos para os círculos marcados no recinto de oração será feito por 80 vigilantes e voluntários, que terão o apoio dos Servitas e Corpo de Escuteiros.
Folheto informativo
Na entrada para o Santuário, os peregrinos recebem um folheto com as regras sanitárias a cumprir durante as celebrações. Será obrigatório desinfetar as mãos e o uso de máscara. O acesso à Capelinha das Aparições e ao Tocheiro estará interdito.
GNR controla
A GNR tem um dispositivo montado entre hoje e terça-feira para controlar o fluxo de peregrinos a Fátima, condicionar o acesso aos parques de estacionamento e impedir ajuntamentos.