O "Plano B" parou a atividade em novembro, após não ter havido concurso. Observatório registou 407 denúncias em 2020 e alerta para redes sociais.
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O projeto "Plano B - Programa de Prevenção do Bullying", uma iniciativa da Associação Plano i, foi interrompido em novembro de 2020 por falta de financiamento da Direção-Geral de Saúde (DGS). Ana Luísa Abreu, psicóloga do projeto, revela que o bullying "continua a acontecer" e está a aumentar.
O "Plano B" teve início em novembro de 2019 e tinha atividades protocoladas com 40 turmas nos concelhos do Porto, Matosinhos e Figueira da Foz. No entanto, devido à pandemia, "várias intervenções ficaram condicionadas" e muitas foram canceladas.
A iniciativa foi uma das escolhidas num concurso da DGS para financiar planos de combate ao bullying em meio escolar. Contudo, segundo Ana Luísa Abreu, "a linha de financiamento não voltou a abrir para nenhum projeto de combate ao bullying" e, sem esse financiamento, a execução ficou comprometida. O JN questionou a DGS, mas não obteve qualquer resposta.
Ciberbullying aumentou
Ana Luísa Abreu admite que "houve vários projetos que ficaram a meio e há questões sociais que ficaram a descoberto". A psicóloga revela que "tem aumentado o bullying" entre jovens, mas com tendência para "passar para ciberbullying". "As redes sociais e tecnologias de informação e comunicação potenciam novas formas de violência", alerta a psicóloga.
Em 2020, o Observatório Nacional do Bullying, também da Associação Plano i, registou 407 denúncias de bullying em jovens entre os 12 e 13 anos. Durante o primeiro confinamento, de março e abril de 2020, houve só quatro denúncias.
O aspeto físico (51,80%) e os resultados académicos (34,90%)são as principais motivações. Quase metade dos casos (45,2%) registados pelo Observatório concentraram-se no Porto e em Lisboa. Cerca de 45% das vítimas precisou de apoio psicológico.
O "Plano B" tinha como principal objetivo prevenir o bullying com recurso à promoção de uma "cultura escolar não violenta, uma escola segura e igualitária". A psicóloga explica que é essencial "o combate a estereótipos e preconceitos", bem como a capacitação dos jovens para se defenderem.
O estudo "Cyberbullying em Portugal durante a pandemia do Covid-19", realizado pelo ISCTE, concluiu que mais de 60% dos estudantes do básico foi vítima de bullying online durante o primeiro confinamento.
RETRATO
Tipo de violência
A violência mais apontada é a psicológica (92,1%), seguida da social (66,6%), física (50,4%), mas também de violência sexual (9,3%).
Quase 500 crimes
A GNR registou 467 crimes em ambiente escolar em 2020. Foi lançada a campanha #NãoSouUmAlvo em 150 municípios, para a prevenção e combate da violência em ambiente escolar.
Vítimas
Segundo o Observatório Nacional do Bullying (ONB), cerca de 61% das vítimas são raparigas e 39% são rapazes, entre os 12 e 13 anos.
Onde acontece
Em 94,6% dos casos, o agressor e a vítima frequentam a mesma escola. O bullying acontece sobretudo no recreio (60,4%), mas também em contexto de sala de aula (50,4%).