A prova de aferição de Educação Artística pede a alunos de 2.º ano que imitem o som e movimento de uma minhoca ou de um sapo cego. É uma fábula, defendem professores ao JN. Esta sexta-feira arrancou a greve convocada pelo S.TO.P. a esta avaliação, diretores e confederação de pais sem reporte de casos onde adesão travou provas.
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As escolas têm até 11 de maio para realizar as provas de aferição de Educação Física e de Educação Artística a alunos do 2.º ano. A partir de segunda-feira será aplicada uma segunda versão de cada prova.
Na prova de Educação Artística que combina a avaliação nas artes plásticas, performativas e Música, na versão aplicada, durante esta semana, os alunos ouviram uma fábula em que eram convidados a entrar numa outra "dimensão" através de um portal imaginário, relatou ao JN uma professora de 1.º ciclo, Carla Carvalho. A minhoca, o sapo cego e um morcego eram algumas das personagens da história. E é nesse contexto de imaginário que foi pedido aos alunos para escolherem imitar o som e o movimento de um desses três animais.
Houve professores que usaram uma toalha ou um pano para simular o transporte para o portal. Também havia uma mesa, onde os alunos tinham de enumerar uma série de frutas, "comer e degustar". "Terminavam com uma dança de agradecimento e uma pose em estátua para uma fotografia", descreveu a docente, que ao contrário de outros professores nas redes sociais, "não ficou chocada" com o exercício, apesar da história não ser particularmente inspiradora, considerou. Para Carla Carvalho o problema da prova foi a sua extensão. "Os alunos já estavam muito cansados", referiu, apontando a reprodução dos sons rítmicos o exercício "mais difícil".
A professora de 1.º ciclo de Lisboa assume estar preocupada com a realização das provas digitais no 2.º ano. Carla Carvalho assegura que usa o computador nas aulas, nomeadamente para a construção de textos coletivos, mas refere que os alunos não treinam para responder aquele tipo de prova em computador. Por exemplo, na Matemática, aponta, os alunos estão na fase de aprofundar estratégias de cálculo, podendo no papel responder aos exercícios com desenhos ou esquemas. "Nestas provas esse método não vai ser possível. Estão a começar a casa pelo telhado, primeiro tinha que se introduzir os manuais digitais. Não é justo", critica, admitindo estar a ponderar pedir escusa de responsabilidade.
Criar "dragões-gato"
Na parte da Arte Plástica, os alunos tinham de criar uma escultura com folhas de papel. Tiveram de fazer um "dragão-gato" - outra personagem da história. Carla Carvalho considerou esta parte da prova mais difícil, sobretudo fazer a escultura tridimensional em 45 minutos. Os alunos, de 7 e 8 anos, tinham três tarefas. Primeiro tinham de montar o corpo do animal com as folhas, depois recortar e colar a cauda, asas ou picos que lhes foram dados (tinham de escolher, obrigatoriamente, um destes elementos). E, por fim, tinham de optar por três cores entre cinco que lhes foram dadas para pintarem a escultura.
O presidente da Associação Nacional de Professores de Educação Visual e Tecnológica riu-se quando o interpelámos sobre o exercício. "Basta amarrotar os papéis", disse, considerando a prova adequada e bem-feita. Para Carlos Gomes, o problema é as artes perderem cada vez mais tempo no currículo dos alunos.
"Todos os exercícios fazem sentido se devidamente orientados", frisa o presidente da Associação Nacional de Dirigentes Escolares (ANDE), defendendo que os docentes têm de esforçar-se para motivar os alunos a realizar as provas. Apesar de também recear as provas digitais no 2.º ano, Manuel Pereira considera que as aferições são importantes para a definição de estratégias de aprendizagem pelos professores.
"Aferir é comparar. Quando os nossos alunos não conseguem realizar um exercício que era expectável e outros conseguem temos de perceber o porquê e mudar a estratégia", defende ao JN.
Greve prolongada
A greve do S.TO.P. às provas de aferição arrancou esta sexta-feira e termina dia 11. Manuel Pereira e Filinto Lima, presidente da Associação Nacional de Diretores (ANDAEP) garantem não ter tido informação de uma escola onde as provas não se tenham realizado devido à adesão ao protesto. A presidente da Confederação Nacional de Pais, Mariana Carvalho, também não. O colégio arbitral, recorde-se, não decretou serviços mínimos para esta greve.
O S.TO.P., na sua página no Facebook, escreveu, esta sexta-feira, um post a informar que também haverá greve entre 16 e 26 de maio - prazo para a realização das provas de Educação Física do 5.º ano e de Tecnologias de Informação e Comunicação do 8.º ano.
Desde segunda-feira, dia 2, e até dia 11 também se estão a realizar as provas de Educação Física no 2.º ano. Os diretores voltam a assumir que apesar de melhor apetrechadas, há escolas sem todo o material necessário para esta avaliação, como plintos, espaldares, bancos suecos ou até "espaços apropriados para a prática de Educação Física" - frisa Manuel Pereira. Ainda assim, insiste, Filinto Lima, estas provas também servem para aferir o material, recursos e condições que escolas e professores têm para trabalhar com os alunos. "Gostaria que também servissem para reforçar ou corrigir o que falta", defende Filinto Lima.