Demorou, mas chegou: os estilhaços de Tancos atingem o PS (35,3%) e, simultaneamente, dão impulso ao PSD (28,9%). Mas há mais novidades, ao décimo dia de sondagem da Pitagórica para o JN, TSF e TVI: o BE desce (9,1%) e a CDU cresce (7,8%).
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É um dia de recordes, quando vamos na décima entrega desta sondagem diária. Nunca um partido teve uma queda tão abrupta (os socialistas perdem 2,4 pontos percentuais de um dia para o outro); nunca o PS esteve tão em baixo (o pior resultado tinham sido os 36% de 24 de setembro); nunca o PSD esteve tão em cima (ganha 1,2 pontos de um dia para o outro e soma 2,5 pontos em dois dias).
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O efeito conjugado da implosão socialista e do novo fôlego social-democrata traduz-se no acentuar de uma tendência que soma cinco dias: a distância entre os dois primeiros reduz-se e também bate um novo recorde: são agora 6,4 pontos percentuais. É verdade que o PS ainda tem uma larga vantagem, mas convém recordar que, no arranque desta "tracking poll", eram 14 pontos. Ainda não é o "taco a taco" que anunciou Rui Rio, mas está quase.
A prova dos nove de que António Costa está em queda e Rui Rio em alta faz-se através de outras perguntas. Por exemplo, na avaliação à prestação dos diferentes líderes partidários (saldo entre quem melhorou e piorou a sua opinião durante a campanha), o secretário-geral socialista afunda-se num saldo que foi sempre negativo (de 5 para 11 pontos), enquanto o presidente social-democrata cresce num saldo que foi sempre positivo (de 14 para 17 pontos).
Efeito de Tancos em diferido
Para perceber até que ponto é que o caso Tancos está a interferir nos resultados da sondagem é preciso voltar a cruzar o calendário político com o da recolha dos inquéritos. Desde logo, ter em conta que, de acordo com a metodologia da "tracking poll", embora a amostra se mantenha estável nos 600 indivíduos, todos os dias se juntam 150 novas entrevistas, retirando-se as 150 mais antigas. A renovação total da amostra leva quatro dias. Por aqui se percebe que um acontecimento importante, como a acusação de Tancos, teria sempre um efeito diferido no tempo.
Com a divulgação dos resultados de domingo, parecia não haver qualquer efeito Tancos: o PSD subiu, mas também o PS. É preciso ter em conta que, nessa altura, cerca de metade da amostra (os 150 que foram inquiridos na quarta-feira e os 150 que foram entrevistados na quinta-feira) teve uma exposição limitada ao tema e já não testemunhou o clamor que se seguiu. Foi apenas ao princípio da noite de quinta-feira que Rio dirigiu o seu primeiro e violento ataque contra Costa (um primeiro-ministro que, ou foi "conivente" ou "não tem autoridade" para chefiar o Governo, disse o líder do PSD).
Com a divulgação dos resultados desta segunda-feira, os 150 inquiridos de quarta-feira (dia em que o tema esteve centrado em Marcelo Rebelo de Sousa) já não fazem parte da amostra, sendo substituídos por 150 que seguiram todo o folhetim subsequente. Pela mesma lógica, é possível que, com a divulgação dos resultados de terça-feira, a tendência se aprofunde. Ou não, uma vez que entretanto António Costa aceitou falar sobre a sua participação no caso, em entrevista à RTP, para repetir, de forma enfática, que não estava a par da encenação para a recuperação das armas, o episódio que fez cair o ex-ministro da Defesa, Azeredo Lopes, que agora é acusado de abuso de poder, entre outros crimes.
PSD recupera nos mais velhos
Seja por causa do abalo socialista com Tancos, seja porque Rui Rio saiu reforçado dos confrontos televisivos, seja porque está a conseguir impor o seu estilo e as suas ideias em campanha, certo é que PS e PSD nunca estiveram tão perto. E é útil olhar para os diferentes segmentos (por idade, rendimento e região), para perceber onde é que os alicerces sociais-democratas se fortalecem, ou os socialistas tremem. Lembrando, como sempre, que a análise aos segmentos deve ser lida com reservas, uma vez que são amostras com um número reduzido de inquiridos.
Quando o que está em causa é a idade, o grupo a ter em conta é dos eleitores com 55 ou mais anos. Porque são os mais numerosos e porque, segundo os estudos de opinião mais recentes, são os mais participativos (taxas de abstenção mais baixas). E mais uma vez é este grupo de eleitores que faz a diferença na relação de forças entre PS e PSD: os socialistas ainda lideram mas a diferença passou de 21 para 8 pontos percentuais de um dia para o outro. Nas restantes faixas etárias, mantém-se a relação de forças, com a exceção dos mais novos (18/34 anos), em que o PS ganha algum ascendente.
Relativamente aos escalões de rendimento, não há comportamentos excecionais. Mas, ao nível da geografia, o PSD volta a liderar no Porto e está taco a taco na região Norte, reforçando a tendência dos últimos dias. Em Lisboa, a vantagem socialista continua a ser grande, embora desça de 18 para 16 pontos. O PSD continua estacionado nos 18%. Recorde-se que, ao contrário das projeções a nível nacional, a análise por segmentos se faz com intenção direta de voto, sem distribuição de indecisos.
CDU dá luta ao BE pelo terceiro lugar
O prémio de combatividade não vai apenas para os sociais-democratas. A CDU até dá um salto maior (ganha ponto e meio de um dia para o outro); chega a um novo máximo na sondagem diária (7,8%); aproxima-se do resultado que conseguiu em 2015 (8,2%); e entra na batalha pelo terceiro lugar, com o BE. Para um dia só, não está mal.
Os bloquistas fazem o percurso inverso, quebrando uma tendência de regularidade que os manteve sempre acima dos dez pontos. Em dois dias perderam 1,3 pontos e estão agora nos 9,1%. Ou seja, regressem praticamente ao ponto de partida desta "tracking poll", mas com uma vantagem de apenas 1,3 pontos sobre os comunistas.
Quando se faz a análise micro aos segmentos da amostra (sempre com o alerta para a sua reduzida dimensão), percebe-se melhor o que mudou. Nas faixas etárias, a CDU leva cinco pontos de vantagem sobre o BE entre os eleitores mais velhos (55 e mais anos), que constituem o maior contingente. Os bloquistas lideram nos restantes, com a maior diferença (nove pontos) a registar-se entre os mais novos (18/34 anos).
A análise aos escalões de rendimento mostra que há uma fronteira clara entre a metade com maiores rendimentos (os dois escalões mais altos), em que o BE lidera com clareza; e a metade que vive com mais dificuldades (os dois escalões mais baixos), que favorece a CDU.
Finalmente, ao nível regional, também há mudanças. A CDU já liderava no Sul do país e reforça a sua posição, mas talvez seja mais importante perceber que os comunistas ultrapassam os bloquistas na região metropolitana de Lisboa (que inclui os círculos de Lisboa e Setúbal), embora apenas por algumas décimas e empatando com o CDS. O BE vai à frente no Centro, no Norte e no Porto, onde obtém o seu melhor resultado, seis pontos percentuais à frente dos comunistas.
CDS e PAN estacionados
Entre os dois restantes partidos com assento parlamentar, as alterações são mínimas. O CDS estabiliza numa projeção nacional de 4,5% (intenção direta de voto com distribuição de indecisos), mas sofre algumas oscilações nos diferentes segmentos. Reforça o seu peso entre os eleitores mais velhos (compensando perdas entre os mais novos), cresce nos dois extremos dos escalões de rendimento (e perde na classe média), e sobretudo melhora em Lisboa (empata com a CDU no terceiro lugar).
No que diz respeito ao PAN, a estabilidade é a regra desde o arranque da sondagem diária (nunca desce abaixo dos três pontos, nunca chega aos quatro). Marca agora 3,2% na projeção nacional. O seu apoio é maior quanto mais novo for o eleitor (o que não é necessariamente uma boa notícia, uma vez que a abstenção é maior entre os mais jovens), recolhe um voto transversal a todos os escalões de rendimento e é em Lisboa e Porto que reside a sua expectativa de formar um grupo parlamentar.
Livre continua a crescer
Fechamos esta análise com os resultados dos partidos que aspiram a chegar, pela primeira vez, à Assembleia da República. O maior destaque vai para o Livre de Rui Tavares: volta a subir, marcando agora 1,5% a nível nacional. Mas é mais importante confirmar que teve uma trajetória ascendente ao longo destes dez dias. A sua melhor hipótese continua a ser Lisboa, onde marca 2% (sem distribuição de indecisos).
Logo a seguir espreita o Iniciativa Liberal de Carlos Guimarães Pinto (1,3%). O novo partido de Centro-Direita tem sofrido maiores oscilações que outros (chegou a ter 2% na projeção nacional). Na análise por segmentos, no entanto, o padrão mantém-se: são homens, sobretudo entre 35 e 44 anos, com rendimentos mais elevados. O círculo da capital (o maior do país) continua a ser o mais prometedor, mas também tem apoio visível no Porto.
O Chega de André Ventura estacionou nos 1,1% há quatro dias, enquanto o Aliança de Santana Lopes volta a perder algumas migalhas e fica nos 0,6%.
Números
11%
O PSD é o partido que mais surpreende os eleitores pela positiva. Acresce que a trajetória é ascendente desde o arranque da "tracking poll" da Pitagórica para o JN. O PS recolhe 5% das respostas nesta pergunta (uma percentagem que se manteve estável nestes dez dias). Mas é preciso ter em conta que quase dois terços dos inquiridos, ou responde "nenhum partido" ou recusa fazer uma escolha.
8,7%
O PS é o partido que mais surpreende os eleitores pela negativa e piorou três pontos nos últimos dias. O PSD marca 6,8% nesta pergunta, mas é verdade que, com algumas oscilações, tem vindo sempre a melhorar. São 44% os inquiridos que responde "nenhum partido" ou que recusam fazer uma escolha.
19%
O número de indecisos continua a baixar, quando falta menos de uma semana para as eleições. Como sempre, as mulheres (21,2%) são mais indecisas do que os homens (16,6%). Os mais novos (18/34 anos) resistem a fazer uma escolha (26,1% de indecisos) do que os mais velhos (55 ou mais anos), em que a indecisão é bastante menor (14,4%).