A 28 de fevereiro, o PS teve um presente inesperado: Paulo Núncio, candidato da AD, disse querer reverter o direito ao aborto. Daí para cá, os socialistas não deixaram o assunto cair no esquecimento. No fecho da campanha, por coincidência também o Dia da Mulher, este foi o tema mais recorrente do comício de Almada.
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O comício começou com a citação de um poema de Sophia de Mello Breyner. Depois, foram transmitidos dois vídeos: o primeiro com depoimentos de apoiantes femininas e com a mensagem do secretário-geral a propósito do Dia da Mulher, no qual Pedro Nuno afirma - com a mira apontada à AD - que a igualdade de género não é "uma nota de rodapé" no programa do PS, mas sim "uma luta de décadas".
Como que para provar que, ao contrário da AD, a preocupação do líder socialista com as mulheres é genuína e vem de trás, a organização passou um segundo vídeo, com vinte anos, sobre a polémica do "barco do aborto". Tratava-se de uma embarcação que fazia interrupções voluntárias da gravidez e que visitou o país numa altura em que o aborto era ilegal.
Nesse vídeo, um jovem Pedro Nuno Santos, então líder da Juventude Socialista, surge de colete salva-vidas vestido e ar determinado. Contexto: nessa altura, a "jota" disponibilizou uma embarcação para mulheres que quisessem ir a alto mar visitar o "barco do aborto", depois de este ter sido impedido de atracar na costa portuguesa por decisão do Governo PSD/CDS. Estava assim, na perspetiva da comitiva socialista, estabelecido o contraste entre Pedro Nuno e Luís Montenegro em matéria de empenho pelas causas femininas.
Apelo "a todos os que costumam votar à Esquerda"
Os três oradores do comício de Almada também falaram do tema. Inês de Medeiros, autarca local, fê-lo brevemente; a ministra dos Assuntos Parlamentares, Ana Catarina Mendes, citou uma frase de Maria Lamas, escritora e feminista, e endereçou uma palavra "a todas as mulheres anti-fascistas e que foram presas políticas". Quando Pedro Nuno subiu ao palanque, também fez questão de realçar que o PS "é um partido de homens e de mulheres", falando sobre igualdade de género durante alguns minutos.
Se ainda houvesse dúvidas de que os socialistas acreditam que o voto feminino pode decidir as eleições, a "voz-off" que anima todas as ações de campanha fez questão de as dissipar ao garantir que o partido está sempre com as mulheres. "Com elas, sempre com elas, no passado, no presente e no futuro, sempre com muito respeito e para as valorizar", insistiu.
Não foi, contudo, apenas o voto feminino a ser alvo de cobiça do PS neste último comício. A fechar o seu discurso, o líder socialista também se dirigiu "a todos os que costumam votar à Esquerda", bem como aos que deram a maioria absoluta ao seu partido em 2022. "Não podemos dispersar votos. Temos de concentrar os votos no PS", apelou.