Governo é mais curto que o anterior: nomeou até agora menos 78 pessoas e gasta cerca de 41 milhões por ano em salários de funcionários. Não foram divulgados nomes de últimas nomeações.
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O Governo, que o primeiro-ministro prometeu que seria "mais curto e enxuto" do que o anterior, tem uma máquina de, pelo menos, 976 funcionários nos seus gabinetes. O número representa uma despesa a rondar os 2,94 milhões de euros por mês em salários brutos, repartidos pelos 19 ministérios. Por ano, o total supera os 41 milhões, ou seja, cerca de 164 milhões ao longo da legislatura. Embora, por enquanto, os números estejam abaixo dos do Executivo anterior, ainda irão subir, uma vez que falta publicar os dados de cinco gabinetes no site do Governo.
Segundo uma recolha feita pelo JN em 2020, seis meses após a posse do Executivo anterior, este tinha 1054 funcionários nos gabinetes. Os atuais 976 - em funções um ano após a posse - representam uma redução de 78 pessoas (7,4%) a trabalhar com os governantes.
No que toca a salários, há um corte de mais de 1,5 milhões/ano: na contagem de 2020, o total anual rondava os 42,8 milhões (cerca de 3,05 milhões/mês), sendo que, na altura, ainda faltavam dados do Ministério das Infraestruturas.
A publicação dos dados dos cinco gabinetes ainda em falta (salários e número de pessoas) poderá anular esta diferença. Os gabinetes em atraso são os que tinham caído com as recentes remodelações do Governo: quatro secretarias de Estado dos ministérios do Ambiente, Habitação e Agricultura, além do gabinete do ministro das Infraestruturas.
Executivo mais curto
O Governo, que hoje cumpre um ano, assinala a data com mais uma sessão da iniciativa "Governo Mais Próximo", desta vez em Setúbal. Entre ministros e secretários de Estado, o Executivo atual tem menos dez elementos do que o anterior.
Na campanha, António Costa tinha prometido um Governo "mais curto e enxuto", estilo "task force", caso vencesse as eleições. Alcançada a maioria absoluta, cortou 14 gabinetes, baixando-os de 70 para 56: reduziu os ministérios de 20 para 18 e as secretarias de Estado de 50 para 38.
Mas com a demissão de Pedro Nuno Santos, em dezembro, Costa desdobrou o Ministério das Infraestruturas e Habitação em dois. Fez o mesmo com a secretaria de Estado do Ambiente e da Energia, quando João Galamba foi substituir Pedro Nuno nas Infraestruturas.
Resultado: o Executivo continua mais pequeno do que o anterior - que foi o maior de sempre -, mas tem aumentado. Há hoje 19 ministérios e 41 secretarias de Estado, num total de 60 gabinetes -, menos dez do que no último Governo.
Governo novo velho
Falando ao JN, o politólogo José Adelino Maltez ironiza que as promessas de um Governo mais pequeno não passaram de "música celestial". No entanto, refere que o maior problema do Executivo "não está na quantidade, mas sim na estrutura".
"O problema do Governo é que ele não pareceu ter um ano, pareceu ter um mais os sete que estão para trás", considera Maltez. O catedrático lembra que o presidente da República fez uma análise semelhante recentemente, ao apelidar o Executivo de "requentado".
Pelas contas do JN, o Governo tem, pelo menos, 37 funcionários em cargos técnicos com 30 anos ou menos (em vários casos a idade está omissa). Maltez condena aquilo a que chama "política de "empregadagem"", mas esclarece que "sempre foi assim", independentemente do partido no poder: "Se não forem para os gabinetes, estes jovens vão para as juntas de freguesia".
Um ano de casos
Avisos de Marcelo
Na campanha eleitoral, Costa pediu várias vezes uma "maioria estável". A 30 de janeiro ganhou com maioria absoluta, mas nem por isso houve mais estabilidade. Na mensagem de Ano Novo, ao considerar 2023 como "decisivo", o presidente da República deu a entender que só daria ao Governo um ano para se recompor.
Pedro Nuno e TAP
A indemnização de 500 mil euros paga a Alexandra Reis, ex-administradora da TAP que, depois, transitaria para o Governo, levou à demissão de Pedro Nuno Santos a 28 de dezembro. Costa segurou o ministro das Finanças, Fernando Medina, que sempre insistiu que não sabia do caso.
Carla Alves chega e sai
Um dia após tomar posse como secretária de Estado da Agricultura, Carla Alves demitiu-se, por se ter sabido que tinha contas arrestadas devido a um processo do marido. A pressão de Marcelo foi decisiva.
Saída de Marta Temido
O verão passado foi marcado pela crise nas urgências hospitalares. A ministra da Saúde, Marta Temido, apresentou a demissão na sequência da morte de uma grávida que estava a ser transferida entre hospitais por falta de vagas.
Caso Miguel Alves
Em setembro, Costa escolheu para adjunto o ex-autarca de Caminha Miguel Alves. Durou menos de dois meses: o caso dos 300 mil euros adiantados pela autarquia por um pavilhão que não existe chamuscou-o e a sua constituição como arguido num outro processo, acusado de prevaricação, ditou a saída.