ILGA atendeu 380 pessoas desde o início do ano e nota mais dificuldades. Esta segunda-feira é o Dia Internacional Contra a Homofobia, Transfobia e Bifobia.
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A ILGA - Intervenção Lésbica, Gay, Bissexual, Trans e Intersexo denuncia um aumento do número de pedidos de ajuda por discriminação e violência ligados à orientação sexual e de género. Entre janeiro e meados de maio deste ano, a associação registou 380 atendimentos, mais 117 do que em igual período do ano passado, o que representa um aumento de 44%. Desses, 140 são casos novos.
Em causa estão, além de queixas por discriminação, "situações de violência doméstica e de género". Há pessoas LGBTI que, "devido à crise provocada pela pandemia, perderam os rendimentos e tiveram de regressar a contextos familiares inseguros de que tinham conseguido escapar" quando se emanciparam, explicou a presidente, Ana Aresta.
A ILGA também está a "acompanhar várias situações de pessoas em situação de sem-abrigo, porque perderam as suas casas, ou que estão em abrigos de emergência", acrescenta Ana Aresta, revelando que as "respostas públicas de emergência não acautelam as especificidades ligadas à orientação sexual ou identidade de género", o que traz dificuldades acrescidas.
Hoje assinala-se o Dia Internacional Contra a Homofobia, Transfobia e Bifobia, mas quem segue uma orientação que foge à norma, assegura que ainda há muito a fazer para serem respeitados.
Pressão "esmagadora"
Tiago Gomes, 22 anos, de Almada, nasceu com um corpo de mulher que sentia como se fosse uma "prisão". A pressão era "esmagadora" ao ponto de ter de "tomar medicação". Ao longo dos anos viveu um turbilhão de emoções. Sentiu "frustração, revolta, impotência, receio de estar na rua e de fazer coisas normais".
Aos 18 anos deu início ao processo de mudança de sexo, recorrendo ao privado e não ao SNS, uma vez que não quis ficar à espera.
Também a nível laboral Tiago diz que já se sentiu "desrespeitado" e até "humilhado". Não raras vezes insistiam em chamá-lo pelo nome anterior, apesar de já ter alterado os documentos oficiais. Só há dois anos, quando começou a trabalhar na Ikea, em Loures, soube o que era bom ambiente.
A efeméride que hoje se assinala é "importante para dar visibilidade, ajudar várias pessoas e até salvar vidas. Há quem desista da vida por causa da pressão", explica a indiana Aalina Visram, lésbica de 24 anos, que diz ter vivido essa dificuldade na pele. Ouviu várias vezes que o que sentia "não era certo", mas resistiu e hoje está casada e feliz.
"É importante perceberem que isto é uma questão de amor e devem respeitar a orientação" de cada um, diz Valter Silva, 28 anos, homossexual de Braga, que foi aceite pela família.
Cirurgias
Desde 2011, 110 pessoas mudaram de sexo no SNS
De acordo com a Unidade Reconstrutiva Génito-Urinária e Sexual (URGUS) do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, unidade de referência nacional para o processo de reatribuição sexual, 110 pessoas já concluíram o processo cirúrgico para mudança de sexo no SNS desde que a unidade foi criada, em finais de 2011. Há mais 16 pessoas que iniciaram o processo e cerca de meia centena a aguardar. A reatribuição sexual inclui diversas fases, incluindo assistência nas áreas de saúde mental, tratamentos hormonais e intervenções cirúrgicas, um processo que "dura entre 3 e 4 anos".