Liga Portuguesa fez menos 172.498 despistes no ano passado. Situação deveu-se, em grande parte, à paragem a que a pandemia obrigou.
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Três meses de paragem, juntamente com os confinamentos e com o receio de sair de casa, resultaram, no ano passado, num decréscimo para mais de metade dos rastreios do cancro de mama, levados a cabo, a nível nacional, pela Liga Portuguesa contra o Cancro (LPCC). No total, acabaram por ser realizados menos 172.498 despistes. Mas, este ano, os números tendem a subir. Até porque esta quinta-feira, Dia Mundial do Cancro, marca-se o alargamento dos rastreios gratuitos aos distritos de Lisboa e de Setúbal, o que vai fazer com que, no período de dois anos, 100% do território nacional fique, pela primeira vez, abrangido.
Em 2019, foram 532.758 as mulheres convocadas para fazer rastreios do cancro de mama, pelos núcleos regionais (Norte, Centro e Sul) da LPCC. Dessas, 339.159 (63,6%) compareceram à chamada. Mas, no ano passado, o cenário foi totalmente diferente, com apenas 278 651 mulheres a serem convidadas e com 166.661 (59,8%) a serem submetidas ao despiste. Ou seja, foram realizados cerca de metade dos rastreios.
"Os números resultam de uma paragem de três meses a que fomos obrigados, devido à pandemia. E, também, do facto de, depois de termos recomeçado, haver muitas pessoas em isolamento e outras com receio de sair de casa para se submeter aos rastreios", adiantou ao JN Vítor Rodrigues, presidente da LPCC. A isso acresce o caso de o Núcleo Regional do Norte "ter estado parado até setembro, devido a um atraso no protocolo com a Administração Regional de Saúde (ARS) do Norte".
Diagnósticos precoces
Vítor Rodrigues diz esperar que a diminuição de rastreios não traga consequências gravosas, uma vez que os mesmos já voltaram a ser realizados com a frequência habitual. "No caso das mulheres que foram afetadas pela paragem, os rastreios foram reagendados. Estamos a falar de um atraso de três meses. O que faz com que, em vez de se detetarem cancros muito precoces, como é costume, se detetem cancros precoces. Tira-se o "muito"", explicou. Quem faltou à chamada também está a voltar a ser contactado, apesar da realização dos exames poder demorar mais tempo.
Abrangidas pelos rastreios gratuitos passam a estar também, agora, mais 400 mil mulheres da zona Sul. Através de um protocolo firmado com a ARS de Lisboa e Vale do Tejo, a iniciativa da LPCC vai alargar-se aos distritos de Lisboa e de Setúbal, onde tinha pouca expressão. Assim, em dois anos, 100% do território nacional fica coberto.
Equidade
Vítor Rodrigues diz que era "vergonhoso" a área da capital não estar abrangida pelos rastreios gratuitos: "Não garantia equidade a nível social". Lamenta "alguns interesses económicos" que pudessem estar por trás da situação, mas diz-se "muito contente" por "ser algo aparentemente ultrapassado".
Arranque
O início do rastreio na zona da Grande Lisboa tem lugar hoje, pelas 10.30 horas, junto ao Centro de Saúde de Alcochete e conta com a presença de Graça Freitas, diretora-geral da Saúde.
Segurança
Segundo a LPCC, 97% das utentes do rastreio sentem-se seguras "com as medidas adotadas nas instalações".